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Expedição ao interior da Antártida parte de São Paulo
Grupo de 7 cientistas vai enfrentar temperaturas de -35C sobre o manto de gelo para investigar o clima e a atmosfera do passado
MARCELO LEITE
COLUNISTA DA FOLHA
Teve início ontem em São
Paulo a primeira etapa da expedição Deserto de Cristal, pioneira missão científica brasileira no interior da Antártida. Em
três décadas de atividade no
continente, pela primeira o
país atuará de maneira independente muito além da estação Comandante Ferraz, na
ponta da península Antártica.
Seis dos sete pesquisadores
partiram de Guarulhos para
Punta Arenas (sul do Chile). De
lá embarcarão em uma semana
para as montanhas Patriot ,
2.000 km ao sul de Ferraz.
A expedição trabalhará diretamente sobre o espesso manto
de gelo que cobre o continente
de 13,8 milhões de km2 (uma
área 62% maior que o Brasil).
Sua missão principal é fazer
perfurações no manto e obter
amostras para estudar variações do clima e da composição
química da atmosfera nos últimos cinco séculos.
São os chamados testemunhos de gelo. Ao acumular-se, a
neve aprisiona microbolhas de
ar. Quanto mais fundo o cilindro de gelo escavado, mais antigo é o ar encapsulado.
O sexteto da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e da Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) é liderado pelo glaciologista
Jefferson Cardia Simões, que já
encarou 18 expedições à Antártida. São três geógrafos, um
biólogo e um físico.
Em Punta Arenas se reunirão a eles Rosemary Vieira
-única mulher do grupo e a
primeira brasileira numa expedição ao interior da Antártida-
e Marcelo Arevalo, engenheiro
e montanhista chileno, da Universidade de Magalhães. Dia
27, se o tempo permitir, os oito
decolarão dali num cargueiro
Ilyushin-76 para a vizinhança
da estação chilena Parodi e do
acampamento turístico da empresa ALE (Antarctic Logistics
and Expeditions).
No acampamento que ali vão
erguer, a temperatura pode alcançar -35C no verão, 25C
mais baixa que em Ferraz. Ficarão lá até o início de janeiro.
O grupo planeja recolher três
tipos de amostras: pacotes de
neve, em 25 trincheiras de até 3
m de profundidade, três testemunhos rasos de gelo (até 50
m, ou 250 anos de idade) e um
testemunho de até 150 m. Esta
última coleta será no monte
Johns, 400 km mais ao sul.
"Achei que não ia dar, com a
alta do dólar", diz Jefferson Simões. "Gastamos 30% a mais."
A missão tem orçamento de R$
700 mil, do Proantar (Programa Antártico Brasileiro). Quase 80% disso são engolidos pela
logística da expedição, que paga US$ 25 por quilo a ser transportado pela empresa ALE.
O Ministério da Ciência e
Tecnologia reservou R$ 10 milhões para as atividades nacionais do Ano Polar 2007-2009,
esforço internacional de pesquisa do qual a expedição faz
parte. No passado, o Proantar
sobrevivia com R$ 1 milhão por
ano. Para comparação, a China
está investindo US$ 100 milhões para montar uma base no
chamado Domo A, onde a temperatura pode chegar a -93C.
O Brasil caminha para ter
uma linha de pesquisa permanente sobre a criosfera, os 10%
da superfície do planeta cobertos por gelo. Simões propôs ao
MCT um projeto de R$ 6 milhões para a criação de um Instituto Nacional da Criosfera na
UFRGS, tido como certo entre
os 60 institutos nacionais que
serão anunciados no final do
mês pelo presidente Lula.
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