São Paulo, sexta-feira, 21 de novembro de 2008

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Expedição ao interior da Antártida parte de São Paulo

Grupo de 7 cientistas vai enfrentar temperaturas de -35C sobre o manto de gelo para investigar o clima e a atmosfera do passado

MARCELO LEITE
COLUNISTA DA FOLHA

Teve início ontem em São Paulo a primeira etapa da expedição Deserto de Cristal, pioneira missão científica brasileira no interior da Antártida. Em três décadas de atividade no continente, pela primeira o país atuará de maneira independente muito além da estação Comandante Ferraz, na ponta da península Antártica.
Seis dos sete pesquisadores partiram de Guarulhos para Punta Arenas (sul do Chile). De lá embarcarão em uma semana para as montanhas Patriot , 2.000 km ao sul de Ferraz.
A expedição trabalhará diretamente sobre o espesso manto de gelo que cobre o continente de 13,8 milhões de km2 (uma área 62% maior que o Brasil). Sua missão principal é fazer perfurações no manto e obter amostras para estudar variações do clima e da composição química da atmosfera nos últimos cinco séculos.
São os chamados testemunhos de gelo. Ao acumular-se, a neve aprisiona microbolhas de ar. Quanto mais fundo o cilindro de gelo escavado, mais antigo é o ar encapsulado.
O sexteto da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e da Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) é liderado pelo glaciologista Jefferson Cardia Simões, que já encarou 18 expedições à Antártida. São três geógrafos, um biólogo e um físico.
Em Punta Arenas se reunirão a eles Rosemary Vieira -única mulher do grupo e a primeira brasileira numa expedição ao interior da Antártida- e Marcelo Arevalo, engenheiro e montanhista chileno, da Universidade de Magalhães. Dia 27, se o tempo permitir, os oito decolarão dali num cargueiro Ilyushin-76 para a vizinhança da estação chilena Parodi e do acampamento turístico da empresa ALE (Antarctic Logistics and Expeditions).
No acampamento que ali vão erguer, a temperatura pode alcançar -35C no verão, 25C mais baixa que em Ferraz. Ficarão lá até o início de janeiro.
O grupo planeja recolher três tipos de amostras: pacotes de neve, em 25 trincheiras de até 3 m de profundidade, três testemunhos rasos de gelo (até 50 m, ou 250 anos de idade) e um testemunho de até 150 m. Esta última coleta será no monte Johns, 400 km mais ao sul.
"Achei que não ia dar, com a alta do dólar", diz Jefferson Simões. "Gastamos 30% a mais." A missão tem orçamento de R$ 700 mil, do Proantar (Programa Antártico Brasileiro). Quase 80% disso são engolidos pela logística da expedição, que paga US$ 25 por quilo a ser transportado pela empresa ALE.
O Ministério da Ciência e Tecnologia reservou R$ 10 milhões para as atividades nacionais do Ano Polar 2007-2009, esforço internacional de pesquisa do qual a expedição faz parte. No passado, o Proantar sobrevivia com R$ 1 milhão por ano. Para comparação, a China está investindo US$ 100 milhões para montar uma base no chamado Domo A, onde a temperatura pode chegar a -93C.
O Brasil caminha para ter uma linha de pesquisa permanente sobre a criosfera, os 10% da superfície do planeta cobertos por gelo. Simões propôs ao MCT um projeto de R$ 6 milhões para a criação de um Instituto Nacional da Criosfera na UFRGS, tido como certo entre os 60 institutos nacionais que serão anunciados no final do mês pelo presidente Lula.


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