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Variação do genoma é descoberta do ano
Lista da "Science" dos destaques científicos de 2007 premia estudo que aponta maior versatilidade do genoma humano
Em física, estudo sobre raios
cósmicos com atuação de
brasileiros atraiu atenção;
revista elogia célula para
terapia feita sem embriões
GIOVANA GIRARDI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
No ano em que celebridades
do mundo científico se "desnudaram" ao tornar públicas as
transcrições de seus genomas
-fato que chegou a ser encarado como narcisismo de figuras
já espalhafatosas como James
Watson e Craig Venter-, trabalhos que buscaram identificar justamente as diferenças
genéticas entre os indivíduos
foram considerados os mais
impactantes de 2007.
A escolha foi feita pela revista
"Science", que tradicionalmente elege em sua última edição
do ano os dez maiores avanços
da ciência no período (veja lista
completa no quadro abaixo).
Em pelo menos uma dezena
de estudos, que começaram a
ser divulgados no final do ano
passado, vários grupos mostraram que a variação genética de
uma pessoa a outra é muito
maior do que se pensava. Se,
quando o genoma humano foi
decodificado pela primeira vez,
em 2001, considerava-se que
éramos 99,9% idênticos, agora
os cientistas acreditam que as
diferenças podem ser de 0,5%.
Inicialmente os cientistas
entendiam que as variações
eram resultado de um problema de soletração -alterações
nos pares de bases nitrogenadas (as letras do DNA). Uma letra fora de lugar pode levar ao
mau funcionamento de um gene. Nos novos estudos os pesquisadores descobriram que
trechos inteiros podem ser duplicados ou deletados.
"Mostrar o quanto somos diferentes uns dos outros é um
passo fundamental para entender o funcionamento de algumas doenças", lembra o geneticista Marcelo Nóbrega, da Universidade de Chicago (EUA).
A comparação entre genomas de milhares de pessoas
saudáveis permitiu neste ano a
descoberta de mutações ligadas
a diabetes tipo 2, artrite reumatóide e transtorno bipolar. Um
outro trabalho chegou a identificar dois genes que, em uma
variante particular, são capazes
de retardar o avanço da Aids.
Até o ano passado, lembram
os editores da "Science", os
cientistas comparavam o genoma humano com o de nossos
primos primatas para tentar
entender o que em nosso DNA
nos faz humanos. "Agora nos
perguntamos: "O que no meu
DNA me faz ser eu'", escrevem.
Para Nóbrega, os novos estudos servem também para reabilitar a genômica, meio desacreditada por até o momento não
ter trazido as curas prometidas.
"Um só genoma não nos dizia
muita coisa, precisávamos de
um mapa de variações. Acredito que eventualmente os buracos vão se fechar e seremos capazes de criar novas terapias."
Raios cósmicos
Outro destaque da revista foi
para um trabalho de física que
contou com a participação de
brasileiros: a identificação do
local de onde partem os raios
cósmicos ultra-energéticos
(disparos de partículas que
atingem a Terra de vez em
quando). O físico Carlos Escobar, da Unicamp, explica que o
trabalho encerrou um debate
de 40 anos. A dúvida era se esses raios eram galácticos ou extragalácticos. "Nosso resultado
demonstra de maneira segura
que são extragalácticos", conta.
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