São Paulo, domingo, 21 de dezembro de 2008

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Primeira estrela foi morta por buraco negro, diz físico

Evento no Universo primordial deu origem a centros de galáxias supermaciços

Grupo de cientistas simulou aglomeração de partículas a partir do caldo de matéria e de energia que formava o cosmo logo após o Big Bang

DA "NEW SCIENTIST"

Enxames de pequenos buracos negros criados logo após o Big Bang podem ter matado as primeiras estrelas da história do Universo, devorando-as de dentro para fora. Essa é a hipótese lançada por cientistas para explicar a origem dos buracos negros colossais que existem nos centros de galáxias. Eles seriam subproduto da morte das primeiras estrelas, afirma o grupo do físico Cosimo Bambi, da Universidade de Tóquio.
Buracos negros são pontos de matéria concentrada capazes de "engolir" toda a matéria e luz em seu entorno, usando a força da gravidade. Já há algum tempo que físicos especulam sobre miniburacos negros surgidos no caldo de matéria e energia que compunha os primeiros momentos da existência do Universo.
Se isso ocorreu, diz Bambi, eles podem hoje ser parte da chamada matéria escura, a entidade misteriosa que compõe a maior parte da massa presente no Universo hoje. Como ela é invisível, não emite luz nem nenhum outro tipo de radiação, ninguém sabe bem o que ela é.
A hipótese remonta ao início do Universo, que tem 13,7 bilhões de anos de idade. Acredita-se que as primeiras estrelas tenham se formado cerca de 200 milhões de anos após o Big Bang, nos aglomerados mais densos de matéria escura. Era mais provável que estrelas começassem a queimar ali porque a gravidade já teria agrupado o gás necessário para formá-las.
Bambi calculou então o que poderia acontecer se a matéria escura fosse composta de inúmeros buracos negros primordiais microscópicos. Para tal, postulou que cada buraco negro tivesse a massa de um planeta-anão -da ordem de um centésimo do peso da Lua. Observações anteriores descartaram que buracos mais maciços que isso possam ser a matéria escura. Outros muito mais leves, em contrapartida, teriam evaporado rapidamente por causa de efeitos quânticos.
Uma massa de gás capaz de formar uma estrela surgindo em um aglomerado de matéria escura com essas características conteria cerca de um milhão desses buracos negros misturados à matéria comum, estima Bambi. Sua grande densidade faria os buracos afundarem rapidamente até o centro das estrelas e se fundirem.
O buraco negro resultante consumiria a estrela em 1 milhão de anos, adquirindo uma massa de até mil vezes a do Sol. Esses buracos negros podem ter crescido depois ao sugar mais gás. Hoje eles seriam os monstros hipermaciços dos centros de galáxias, com bilhões de vezes a massa do Sol.

Exército esgotado
Por que então não vemos isso acontecer no Universo atual? A diferença é que a maioria das estrelas agora se forma fora dos centros galácticos. Hoje, buracos negros do tipo primordial devem ser muito mais raros, e por isso é difícil que haja uma colisão de um deles com estrelas em estágio embrionário.
A idéia é intrigante, diz Mitchell Begelman, da Universidade do Colorado, que não participou do estudo. Para ele, porém, é mais provável que buracos negros nos centros galácticos sejam tenham iniciado com massa de milhões de vezes à do Sol, formados pelo colapso de nuvens de gás. "Seria mais fácil que buracos negros realmente grandes crescessem rapidamente se fossem iniciados com uma "semente" grande", diz.


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