São Paulo, quinta-feira, 22 de janeiro de 2004

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ESPAÇO

Programa espacial brasileiro negocia colaboração com russos e ucranianos no lançador, afirma ministro da Defesa

Governo vai reativar projeto VLS neste ano

IGOR GIELOW
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo brasileiro vai reativar ainda neste ano o programa do VLS (Veículo Lançador de Satélites), parado desde a explosão do foguete no Centro de Lançamento de Alcântara (MA) que matou 21 técnicos que preparavam seu lançamento, em 22 de agosto do ano passado.
A informação é do ministro da Defesa, José Viegas. Segundo Viegas, o programa será retomado de onde parou, mas com uma diferença importante: será adicionada tecnologia estrangeira ao VLS. "As conversas estão avançadas com a Rússia e a Ucrânia", disse Viegas, referindo-se aos principais fabricantes de foguetes fora do eixo EUA-União Européia.
Diferentemente do que se chegou a especular, Viegas afirma que não haverá compra de um lançador pronto. "Será aplicada tecnologia já existente ao projeto brasileiro, sobre o nosso foguete como está", disse.
Não haverá tampouco uma mudança mais profunda na concepção do VLS, como a substituição do combustível sólido pelo líquido -tecnologia mais complexa e eficiente para a inserção precisa de satélites em órbita.

Rumo incerto
Os termos do eventual acordo com russos ou ucranianos não estão fechados. Segundo a Folha apurou, o Ministério da Ciência e Tecnologia havia discutido o tema mais a fundo com a Ucrânia. Já um acordo com Moscou é visto com bons olhos na Defesa, por estar encaixado em uma pauta mais ampla de negociações.
A ampliação do mercado de carne para o Brasil está sendo discutida justamente nesta semana, na Rússia, pelos ministros Luiz Furlan (Desenvolvimento) e Roberto Rodrigues (Agricultura).
Além disso, os russos querem fornecer o novo caça da Força Aérea Brasileira, um negócio de US$ 700 milhões que se desenrola há quase três anos e deve estar fechado no máximo em dois meses. Uma comissão deverá analisar o relatório técnico da FAB, que leva em conta o avião em si e as contrapartidas tecnológicas e comerciais da proposta.
O concorrente Sukhoi-35, primeiro colocado na avaliação técnica da FAB, disputa a preferência com o Mirage-2000BR, da empresa francesa Dassault. O russo é associado à brasileira Avibrás; o francês, à Embraer.

Relatório de Alcântara
Viegas confirmou que o relatório final sobre o acidente de Alcântara deverá estar pronto até o final desta semana, como havia adiantado ontem a Folha, mas não se comprometeu com uma data para sua divulgação.
O texto vai especificar o ignitor do VLS como a origem do incêndio, mas não o que teria provocado a indução de corrente elétrica que o disparou.
"A sindicância não apontará uma causa específica para o acidente, mas sim um conjunto de fatores sobre os quais poderemos trabalhar para evitar problemas no futuro", afirmou. Para Viegas, o relatório não poderá culpar ninguém pelas mortes. "Vamos aprender com a adversidade."
A sindicância também deve descartar de vez a hipótese de sabotagem. Para o ministro Viegas, a possibilidade foi estudada e "não se justifica".


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