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Mudança do clima já esquenta Antártida
Estudo indica aquecimento geral do continente, negando visão anterior; temperatura no oeste subiu mais
MARCELO LEITE
COLUNISTA DA FOLHA
Não resta muita dúvida: a
parte mais vulnerável da Antártida também está se aquecendo, como o resto do mundo.
A tendência vale ainda para o
continente como um todo e para a última metade de século,
sustenta artigo no periódico
científico "Nature" de hoje.
A Antártida inteira esquentou cerca de 0,6C de 1957 a
2006. Na Antártida Ocidental,
aquele terço do continente voltado para a América do Sul, o
aquecimento foi ainda mais
acentuado: 0,85C.
Os dois terços orientais viram os termômetros subirem
menos: 0,5C. Isso subverte a
visão tradicional sobre o continente gelado em tempos de
mudança climática: aquecimento só na península Antártica e resfriamento do resto (sobretudo a Antártida Oriental).
O grupo liderado por Drew
Shindell (Nasa) e Eric Steig
(Universidade de Washington)
usou poucos dados de estações
meteorológicas. Elas não chegam a meia centena e estão localizadas perto da costa. Não
servem para estimar a temperatura do continente inteiro.
"Ouve-se o tempo todo que a
Antártida está se resfriando, e
não é esse o caso", alerta Steig.
"A Antártida não está se aquecendo na mesma taxa em todo
lugar e, enquanto algumas
áreas vêm se resfriando por
muito tempo, a evidência mostra que o continente como um
todo está ficando mais quente."
Steig e Shindell recorreram a
medidas de temperatura tomadas por satélite, que cobrem toda a Antártida. Como esses dados só estão disponíveis para o
último quarto de século, eles
treinaram seus computadores
para inferir as temperaturas
dos 25 anos anteriores com base nos últimos 25 anos.
"O resultado não me surpreende", afirma Jefferson
Cardia Simões, glaciologista da
Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRGS). "Se
olharmos os artigos científicos
que modelam o impacto de um
aquecimento atmosférico, aparece primeiro o aquecimento
da península e depois o da Antártida Ocidental."
A constatação dos americanos é preocupante, mas está
longe de motivar pânico. A
ameaça maior ainda vem das
geleiras da Groenlândia, no outro extremo do globo (Ártico).
Mesmo estas levariam séculos
para derreter, elevando o nível
dos mares em vários metros.
O problema é que a Antártida
contém dez vezes mais gelo do
que a Groenlândia. A maior
parte, 70%, se concentra na Antártida Oriental, que é mais fria,
tem manto de gelo mais espesso e é mais estável. O restante
fica na parte ocidental. Ela é
mais quente, recebe mais neve
e tem mais correntes e mais
plataformas de gelo para se acelerarem e romperem. Em duas
palavras, é a Antártida mais dinâmica e mais vulnerável.
Segundo Shindell, a parte a
oeste da Antártida é mais suscetível a escorregamento do
manto de gelo em direção ao
mar. "Não tão vulnerável quanto a Groenlândia, mas não é invulnerável", diz. Trata-se de
um risco de longo prazo, no entanto, coisa para séculos, ou
milênios.
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