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ASTROBIOLOGIA
Organismo terrestre poderia sobreviver sob o oceano de Europa
Bactéria resiste a pressão alienígena
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Quem acha que trabalha sob
pressão ainda não conheceu as
bactérias de um laboratório da
Instituição Carnegie de Washington, nos EUA. Elas vivem como
alguém que estivesse com uma
camada de 160 quilômetros de
água sobre sua cabeça. A sessão
de tortura bacteriana mostra como esses organismos poderiam
sobreviver até mesmo nas condições encontradas em Marte ou
em Europa, uma lua de Júpiter.
Um dos principais argumentos
contra a existência de vida em outras regiões do Sistema Solar é a
enorme pressão a que esses organismos estariam sujeitos, caso habitassem os locais em que há água
líquida -no subsolo marciano
ou sob a quilométrica crosta de
gelo de Europa.
Diversos testes anteriores feitos
com pedaços de organismos mostravam a dura realidade da situação: "A integridade da membrana
celular está em risco. A pressão
também danifica o DNA e desnatura proteínas", diz Anurag Sharma, autor do estudo, que está publicado hoje na revista "Science".
Ao que tudo indicava, nada terrestre poderia viver em condições
de altíssima pressão. "Havia informações tão avassaladoras nos
estudos in vitro que as pessoas
acreditavam que fossem definitivas. De fato, nós éramos algumas
dessas pessoas", conta Sharma.
"Só quando eu acidentalmente
superpressurizei meu aparelho,
nós percebemos que os micróbios
ainda estavam ativos. Foi isso que
assegurou todo esse trabalho."
Bactérias comuns
Os organismos testados nem
são os especialistas da sobrevivência a todo custo -os chamados extremófilos. Muito ao contrário, são bichinhos bem vagabundos, o Escherichia coli e o Shewanella oneidensis. O primeiro
vive no sistema digestivo de animais e o segundo vem de um lago
raso do Estado de Nova York, o
Oneida. "Ambos são anaeróbios
[não precisam de oxigênio" e não
têm relatos de qualquer extremofilia", diz Sharma.
As bactérias foram submetidas,
em uma máquina que usa uma
prensa de diamante para gerar
pressão, a um aperto de até 1.680
MPa (megapascal, subunidade do
pascal, a unidade padrão de medida de pressão). Para efeito de
comparação, a pressão do ar no
nível do mar é de 0,1 MPa. Segundo os pesquisadores, a pressão
que foi imposta às bactérias é dez
vezes maior que as encontradas
nos ambientes extremos da zona
habitável do Sistema Solar.
Para Sharma, o estudo é mais
uma demonstração da capacidade dos sistemas biológicos de sobrepujar as dificuldades. "Até na
Terra estamos descobrindo que a
diversidade da vida é muito maior
do que imaginávamos", diz.
"Ambientes subterrâneos em
Marte ou em Europa podem fornecer o conjunto certo de elementos para a manutenção da vida."
A descoberta acidental de Sharma e seus colegas está abrindo novas possibilidade de estudo. "Planejamos fazer experimentos com
extremófilos. Também queremos
fazer [estudos de" biologia molecular para determinar qual é o
processo que mantém os micróbios vivos em pressões extremas."
Para ele, entretanto, a recompensa da pesquisa não está só no
ramo da busca de vida alienígena.
"O estudo abriu uma avenida inteiramente nova de pesquisa, pela
primeira vez combinando física
de alta pressão e biologia", diz.
"Isso tem implicações não só em
astrobiologia, bioquímica e microbiologia, mas em biotecnologia e ciência dos alimentos."
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