São Paulo, quinta-feira, 22 de março de 2001

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Família domina pesquisas há três gerações

DA REPORTAGEM LOCAL

A árvore genealógica da espécie humana se confunde com a da família Leakey, à qual pertencem Meave e Louise, co-descobridoras do novo fóssil. O clã, que domina a paleoantropologia (estudo dos ancestrais do homem) na África desde a década de 30, achou e descreveu o maior número de novas espécies de hominídeos.
Seu patriarca, o queniano Louis Leakey (1903-1972), foi o descobridor do célebre sítio da garganta de Olduvai, na Tanzânia, em 1931. Lá foram achados restos de várias espécies de hominídeos, como o Paranthropus boisei e o Homo habilis -ancestral direto do homem moderno.
Este último, aliás, foi desenterrado por sua mulher, Mary, e por seu filho Jonathan em 1960, no mesmo sítio. Mary, uma inglesa apaixonada pela África, tomou a frente das escavações em Olduvai na década de 60. Em 1978, sobrepujou a fama acadêmica do marido ao descobrir pegadas fossilizadas de hominídeos em Laetoli, também na Tanzânia.
O caçula do casal, Richard, tentou se livrar da sina científica dos pais e saiu da escola para virar guia de safáris fotográficos. Só que, em 1963, acabou esbarrando por acaso numa mandíbula de australopiteco. E voltou às escavações no Quênia.
Em 1967, Richard Leakey descobriu o sítio de Koobi Fora, no lago Turkana, de onde saíram fósseis importantes de Homo habilis e uma nova espécie, o Homo rudolfensis. Seu livro "O Povo do Lago", de 1978, foi o primeiro a propor que várias espécies de australopitecos conviveram na África ao mesmo tempo, cerca de 3,5 milhões de anos atrás.
Richard, que se tornaria ministro da Vida Selvagem do Quênia, casou-se com uma galesa, Meave, que também acabou herdando o que os paleontólogos chamam de "Leakey luck" (a sorte dos Leakey). Em 1994, ela encontrou fósseis de uma nova espécie de australopiteco, o Australopithecus anamensis, considerado o ancestral mais antigo do homem descoberto até o momento.
O Kenyanthropus, publicado hoje na "Nature", é a estréia da filha mais velha dos Leakey, Louise, de 28 anos. "Trabalhar nessa área é mais um interesse permanente que uma obrigação familiar", disse à Folha a caçula Samira Leakey, 26, única herdeira do casal que não é antropóloga (embora tenha seguido a carreira política, a segunda paixão do pai). "Mas está virando uma tradição que já dura três gerações." (CA)


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