|
Próximo Texto | Índice
ELEIÇÃO NA ABC
Eduardo Moacyr Krieger enfrenta Luiz Hildebrando Pereira para presidência de agremiação de cientistas
Academia terá 1ª disputa em uma década
REINALDO JOSÉ LOPES
FREE-LANCE PARA A FOLHA
A mais antiga agremiação científica multidisciplinar do Brasil
tem, neste mês, a primeira eleição
disputada desde 1993. Depois de
ser reeleito sem opositores por
três mandatos, o fisiologista
Eduardo Moacyr Krieger, atual
presidente da ABC (Academia
Brasileira de Ciências), enfrenta a
o parasitologista Luiz Hildebrando da Silva Pereira.
Ambos os candidatos são médicos, têm 75 anos e elogiam o papel
de destaque que a ABC granjeou
nos últimos anos na cooperação
internacional com outras academias de ciência. Mas as semelhanças terminam aí.
Krieger defende a continuidade
dos projetos em andamento: "Estou diretamente envolvido neles,
e os membros me motivaram a
continuar. Há tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo que seria
uma pena deixar isso parar", diz o
pesquisador do Incor (Instituto
do Coração), em São Paulo.
Hildebrando (como é mais conhecido), do Centro de Pesquisa
em Medicina Tropical em Porto
Velho (RO), avalia que a participação dos membros da academia,
escolhidos por seus pares para representar os cientistas mais reconhecidos do Brasil, está muito
aquém do desejável.
"Quem tem uma participação
mais intensiva são os membros da
diretoria e alguns assessores mais
próximos. As atividades regionais
são poucas, e há uma grande
quantidade de membros em São
Paulo, por exemplo, que praticamente não participam da academia", afirma o parasitologista,
nascido em Santos.
Krieger destaca a participação
da ABC no debate nacional sobre
a transformação dos resultados
produzidos pelos cientistas em
inovação tecnológica: "Nós temos
tido presença permanente no
Conselho Nacional de Ciência e
Tecnologia, que é dirigido pelo
próprio presidente da República e
pode ajudar a coordenar todas as
ações para criar uma política industrial, que nós ainda não temos", afirma o médico gaúcho.
Segundo ele, a academia estreitou relações com suas congêneres
pelo mundo. A ABC integra o IAP
(sigla inglesa de Painel Interacademias, que reúne 90 entidades
do gênero) e a Academia de Ciências do Terceiro Mundo.
A ABC foi signatária, por exemplo, de um manifesto das academias de ciência em favor das pesquisas com clonagem terapêutica.
"O papel da academia não é entrar diretamente no debate sobre
questões como essa, mas fornecer
subsídios científicos claros e confiáveis para que a sociedade possa
avaliar a questão", diz Krieger.
Hildebrando advoga posição
mais ativa contra o que considera
uma tendência "obscurantista" e
perigosa na sociedade. "Um
exemplo nítido é a atitude em relação aos transgênicos, que se tornou quase um temor místico contra supostos elementos de ordem
não-natural. Outro é a interferência de correntes religiosas nas decisões do Congresso sobre pesquisas de clonagem terapêutica."
O parasitologista foi cassado pelo governo militar nos anos 60,
por ser do Partido Comunista
Brasileiro, e demitido da USP. Foi
pesquisar no Instituto Pasteur
(França), onde permaneceu por
três décadas. Ele defende a ampliação do papel da academia na
divulgação do conhecimento
científico como forma de contrariar essa tendência anticientífica
-outro ponto de contato entre
ele e a candidatura de Krieger.
A ABC, fundada em 1916, tem
sede no Rio e cerca de 400 membros. O resultado das eleições será
conhecido no final do mês.
Próximo Texto: Panorâmica - Arqueologia: Egito pede de volta máscara de Ramsés 4º Índice
|