São Paulo, segunda-feira, 22 de março de 2004

Próximo Texto | Índice

ELEIÇÃO NA ABC

Eduardo Moacyr Krieger enfrenta Luiz Hildebrando Pereira para presidência de agremiação de cientistas

Academia terá 1ª disputa em uma década

REINALDO JOSÉ LOPES
FREE-LANCE PARA A FOLHA

A mais antiga agremiação científica multidisciplinar do Brasil tem, neste mês, a primeira eleição disputada desde 1993. Depois de ser reeleito sem opositores por três mandatos, o fisiologista Eduardo Moacyr Krieger, atual presidente da ABC (Academia Brasileira de Ciências), enfrenta a o parasitologista Luiz Hildebrando da Silva Pereira.
Ambos os candidatos são médicos, têm 75 anos e elogiam o papel de destaque que a ABC granjeou nos últimos anos na cooperação internacional com outras academias de ciência. Mas as semelhanças terminam aí.
Krieger defende a continuidade dos projetos em andamento: "Estou diretamente envolvido neles, e os membros me motivaram a continuar. Há tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo que seria uma pena deixar isso parar", diz o pesquisador do Incor (Instituto do Coração), em São Paulo.
Hildebrando (como é mais conhecido), do Centro de Pesquisa em Medicina Tropical em Porto Velho (RO), avalia que a participação dos membros da academia, escolhidos por seus pares para representar os cientistas mais reconhecidos do Brasil, está muito aquém do desejável.
"Quem tem uma participação mais intensiva são os membros da diretoria e alguns assessores mais próximos. As atividades regionais são poucas, e há uma grande quantidade de membros em São Paulo, por exemplo, que praticamente não participam da academia", afirma o parasitologista, nascido em Santos.
Krieger destaca a participação da ABC no debate nacional sobre a transformação dos resultados produzidos pelos cientistas em inovação tecnológica: "Nós temos tido presença permanente no Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia, que é dirigido pelo próprio presidente da República e pode ajudar a coordenar todas as ações para criar uma política industrial, que nós ainda não temos", afirma o médico gaúcho.
Segundo ele, a academia estreitou relações com suas congêneres pelo mundo. A ABC integra o IAP (sigla inglesa de Painel Interacademias, que reúne 90 entidades do gênero) e a Academia de Ciências do Terceiro Mundo.
A ABC foi signatária, por exemplo, de um manifesto das academias de ciência em favor das pesquisas com clonagem terapêutica. "O papel da academia não é entrar diretamente no debate sobre questões como essa, mas fornecer subsídios científicos claros e confiáveis para que a sociedade possa avaliar a questão", diz Krieger.
Hildebrando advoga posição mais ativa contra o que considera uma tendência "obscurantista" e perigosa na sociedade. "Um exemplo nítido é a atitude em relação aos transgênicos, que se tornou quase um temor místico contra supostos elementos de ordem não-natural. Outro é a interferência de correntes religiosas nas decisões do Congresso sobre pesquisas de clonagem terapêutica."
O parasitologista foi cassado pelo governo militar nos anos 60, por ser do Partido Comunista Brasileiro, e demitido da USP. Foi pesquisar no Instituto Pasteur (França), onde permaneceu por três décadas. Ele defende a ampliação do papel da academia na divulgação do conhecimento científico como forma de contrariar essa tendência anticientífica -outro ponto de contato entre ele e a candidatura de Krieger.
A ABC, fundada em 1916, tem sede no Rio e cerca de 400 membros. O resultado das eleições será conhecido no final do mês.


Próximo Texto: Panorâmica - Arqueologia: Egito pede de volta máscara de Ramsés 4º
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.