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Europeu acha menor planeta extrassolar
Objeto tem apenas 1,9 vez a massa da Terra; observações também sugerem que astro vizinho poderia abrigar oceano
Descoberta foi feita por
telescópio no Chile; sistema
é o mesmo onde planeta "gêmeo" da Terra foi achado em 2007 pelo mesmo grupo
CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA
Um grupo de astrônomos europeus anunciou ontem ter detectado o menor planeta fora
do Sistema Solar até agora. De
quebra, afirmou que um vizinho dele é forte candidato a ter
um oceano -e, talvez, vida.
O novo planeta, batizado
Gliese 581e, tem apenas 1,9 vez
a massa da Terra. Ele orbita a
estrela onde há dois anos a
mesma equipe de pesquisadores descobriu um mundo com
diâmetro semelhante ao da
Terra e supostamente dentro
da chamada zona habitável, região onde é teoricamente possível encontrar água líquida.
O pequeno astro é o quarto
planeta descoberto em torno
da estrela Gliese 581, que vem
sendo observada assiduamente
há cinco anos pelo suíço Michel
Mayor e colegas, com o auxílio
de um telescópio do ESO (Observatório Europeu do Sul) em
La Silla, norte do Chile.
"Nossas observações indicavam que ainda havia espaço para encontrar mais planetas lá. A
surpresa foi achar um tão pequeno e tão perto da estrela",
disse à Folha Xavier Bonfils, do
Observatório de Grenoble,
França, coautor da descoberta.
Apesar de ser rochoso, como
a Terra, o planeta "e" está perto
demais de sua estrela para ser
um bom candidato à vida. Sua
distância em relação a Gliese
581 equivale a menos de 10% da
distância da Terra ao Sol. Nessa
região, qualquer oceano que
viesse a se formar no mundinho seria vaporizado. E água líquida, até onde os cientistas sabem, é essencial à vida.
A descoberta, no entanto, é
importante por outra razão: ela
mostra aos astrônomos que o
céu é literalmente o limite para
a detecção de planetas tipo
Terra fora do Sistema Solar.
Por Júpiter
A caça aos planetas fora da
Terra foi iniciada em 1995 por
Mayor, do Observatório de Genebra, e seu colega Didier Queloz. Esses astros, porém, são
praticamente impossíveis de
observar diretamente, pois estão muito longe e acabam ofuscados pela luz de suas estrelas.
Sua detecção precisa ser indireta, por meio do puxão gravitacional que eles exercem. Até pouco
tempo atrás, achava-se que só
fosse possível detectar planetas
gigantes gasosos, como Júpiter,
que exercem um puxão mais
distinguível -mas que são todos inabitáveis. O aperfeiçoamento dos instrumentos e os
vários anos de dados acumulados permitiram detectar mundos como a Terra.
"Quando descobrimos o primeiro planeta extrassolar, não
podíamos imaginar que isso
poderia estar no domínio da astronomia hoje", disse Mayor.
Também ajudou o fato de o
grupo ter escolhido o alvo certo: Gliese 581 é uma anã-vermelha, uma classe de estrela
menor e menos brilhante que o
Sol. No começo da década,
anãs-vermelhas eram desprezadas pelos caçadores de planetas -que consideravam-nas
frias demais para abrigar planetas habitáveis. Mas justamente o fato de elas serem mais
"apagadas" ajuda na detecção
de planetas rochosos.
Novos alvos
As observações do grupo europeu também permitiram refinar dados sobre a órbita e a
massa dos outros planetas do
sistema Gliese 581. Um deles, o
"c" -o tal "gêmeo" da Terra-,
talvez esteja na zona habitável.
E seu vizinho, o "d", certamente está. Apesar de não ser inteiramente rochoso, "ele poderia
até mesmo ser coberto por um
oceano", disse em comunicado
do ESO o suíço Stéphane Udry,
outro membro da equipe.
Bonfils afirma que ainda é
possível descobrir mais planetas com até duas vezes a massa
terrestre na zona habitável de
Gliese 581. "Daqui a dois anos
talvez possamos anunciar outro." E o trabalho não para por
aí: há 310 anãs-vermelhas candidatas a abrigar novas Terras
na mira dos pesquisadores.
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