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Grupo flagra "último suspiro" de estrela
Em lance de sorte, telescópio de raios X da Nasa fotografou uma supernova, o instante da morte estelar, desde seu início
Dados foram coletados por diversos instrumentos e podem ajudar a detectar outros eventos como esse com maior antecedência
DA REUTERS
Um grupo de astrônomos divulgou ontem as imagens de
uma supernova -explosão estelar- documentada desde seu
início. Em um golpe de sorte,
cientistas que trabalham com o
satélite Swift, da Nasa, detectaram uma grande fonte emissora de raios X em 9 de janeiro
deste ano, e diversos telescópios poderosos foram apontados para o local a fim de registrar o processo de explosão.
Como as supernovas são
eventos relativamente raros, os
cientistas não tinham até hoje
feito nenhuma detecção precoce de uma delas. Só se conseguia apontar os telescópios para elas quando o processo de
explosão já está avançado.
"Durante anos nós sonhamos em observar uma estrela
bem no momento de sua explosão", afirma Alicia Soderberg,
astrônoma da Universidade de
Princeton (EUA), que lidera o
grupo autor da descoberta.
"Nós estávamos no lugar certo,
na hora certa, com o telescópio
certo, em 9 de janeiro e testemunhamos a história."
Grosso modo, uma supernova é a morte de uma estrela
bem maior do que o Sol. Quando a fusão nuclear que alimenta
seu brilho cessa por falta de
combustível, o astro colapsa
em sua própria gravidade -"cai
sobre si mesmo". Toda a matéria em contração então quica
no centro da estrela e é lançada
para fora, numa violenta expansão. O que resta de matéria,
perto do núcleo, forma uma esfera densa e fria, chamada estrela de nêutrons, ou então origina um buraco negro.
A supernova encontrada pela
equipe de Soderberg está na galáxia NGC 2770, a 88 milhões
de anos-luz da Terra. Como a
luz demora para chegar dessa
distância até aqui, a observação
recente significa na verdade
que a estrela explodiu 88 milhões de anos atrás.
Mutirão astronômico
"Usando os telescópios mais
poderosos da Terra e do espaço
para observar luz visível, ondas
de rádio e raios X, nós conseguimos observar a evolução da
explosão desde o começo", diz
Edo Berger, da Instituição Carnegie de Washington, colaborador de Soderberg. "Isso confirmou que aquela grande explosão de raios X marcou o nascimento da supernova."
O comportamento da supernova, batizada com a sigla
2008D, está descrito na edição
de hoje da revista científica britânica "Nature". O trabalho teve a participação de 38 cientistas de diversas partes do mundo. Entre os instrumentos usados para observar o evento estão o Telescópio Espacial Hubble, o Observatório Chandra de
Raios X e o telescópio Keck 1.
O "mutirão" reuniu dados
que ajudarão a detectar outras
supernovas com antecedência.
"Instrumentos astronômicos
planejados para o futuro poderiam então nos permitir finalmente desvendar o mistério sobre como essas explosões ocorrem", diz Soderberg.
Retrato em raios X
Supernovas são normalmente detectadas visualmente dias
ou semanas depois de terem
efetivamente iniciado, quando
já estão mais brilhantes. Os
cientistas, porém, observaram
que o início do evento tem forte
emissão de partículas conhecidas como neutrinos e produz
uma onda de choque que superaquece o gás nas camadas exteriores da estrela. Esse gás
emite raios X, então, o que pode
ser a primeira pista para o cataclismo que vem depois.
"Essa observação é, de longe,
o melhor exemplo de o que
acontece quando uma estrela
morre e dá origem a uma estrela de nêutrons", afirma Kim Page, da Universidade de Leicester (Inglaterra), que liderou a
análise de raios X.
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