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Maioria dos cientistas já testemunhou abuso ético
Nos EUA, 84% presenciaram falsificação de dados, plágio e práticas afins
Pesquisadores dizem ter tentado intervir para corrigir erros; casos, em geral, envolviam chefes dos grupos de pesquisa
SABINE RIGHETTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A maioria dos cientistas já
testemunhou ou se envolveu
em casos de infração científica como falsificação de dados ou plágio. É isso que revela um estudo inédito conduzido pelo Simmons College, dos Estados Unidos.
De um total de 2.599 cientistas americanos e canadenses com pesquisas financiadas pelos Institutos Nacionais de Saúde (NIH, na sigla
em inglês), 84% disseram já
ter presenciado ou participado de infrações científicas.
Dentre os cientistas que
participaram direta ou indiretamente de um trabalho
com dados fraudulentos,
63% disseram ter tentado intervir para evitar o abuso.
As informações, coletadas
por meio de um questionário
enviado por email aos cientistas, respondido anonimamente, estão na edição de
hoje da revista "Nature".
DE CIMA PRA BAIXO
"Na maioria dos casos relatados, as infrações de dados foram conduzidas por
um chefe [orientador ou
coordenador de pesquisa].
Isso torna difícil uma intervenção por parte dos pesquisadores", disse à Folha Gerald Koocher, um dos coordenadores da pesquisa.
Ele explica que as intervenções são mais fáceis para
cientistas distantes do infrator do que para quem está no
mesmo laboratório.
"Em 61 casos, não houve
intervenção diante de um erro porque o cientista era um
amigo", conta Koocher.
No topo da lista de infrações cometidas pelos cientistas, estão fabricação ou falsificação de dados, falsa co-autoria de artigo e plágio.
SOLUÇÕES
Segundo Koocher, as estatísticas encontradas nos EUA
podem ser generalizadas para Brasil, Austrália e alguns
países da Europa que, na opinião dele, possuem uma
"cultura científica bastante
semelhante".
Com base na pesquisa, os
autores criaram uma espécie
de guia de 60 páginas que
traz sugestões para os cientistas saberem o que fazer
diante de uma pesquisa com
dados fraudulentos (www.ethicsresearch.com).
"Mas o guia não faz rodeios e reconhece que nem
sempre os pesquisadores
conseguirão tomar uma atitude diante de um erro científico", revela o autor.
A ideia de estudar infrações científicas foi do governo americano, para tentar
mapear erros em dados científicos. "Sabemos que os pesquisadores, especialmente
nos grandes estudos, podem
não checar números e não repetem os estudos", conta.
Ainda podemos confiar na
ciência? Koocher acredita
que sim. "A maioria dos cientistas é honesta. Nós temos
dados positivos e precisamos
descobrir como fazer para
melhorar a integridade dos
cientistas", finaliza.
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