São Paulo, sexta-feira, 22 de julho de 2011

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A FAVOR

Voos espaciais passaram a ser parte da vida moderna

SALVADOR NOGUEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Há duas medidas para o sucesso dos ônibus espaciais. Se o critério for o que a Nasa prometeu que eles fariam antes de projetá-los, o resultado não é dos melhores.
Quando a agência "vendeu" a ideia, na década de 70, pensava em realizar 50 voos por ano, baratear o acesso ao espaço e aumentar os níveis de segurança.
Não é preciso ser historiador para saber que nada disso aconteceu. Nunca houve uma nave tão perigosa, cara e difícil de lançar. O número máximo de lançamentos por ano? Nove, em 1985, um ano antes do acidente com a Challenger -a primeira das duas tragédias em três décadas.
Mas se adotarmos outro critério -o que os ônibus de fato conseguiram realizar-, a imagem que fica é a de um estrondoso sucesso.
Nunca houve uma máquina de voar mais complexa, e o comportamento dos pilotos acerca de sua sofisticação beira a adoração religiosa.
Os ônibus espaciais -e a capacidade que eles proporcionaram de capturar satélites em órbita- são responsáveis pela mais bem-sucedida espaçonave já lançada: o Telescópio Espacial Hubble.
Graças aos ônibus, os engenheiros puderam projetá-lo de forma a ser atualizável, prolongando sua vida útil e proporcionando mais revelações sobre o Universo.
Além disso, a capacidade de reparos salvou a Nasa de um embaraço, quando foi descoberto que o espelho do Hubble tinha uma deformação que o tornava míope.
Não fosse a capacidade de levar astronautas até lá para o conserto, o satélite já seria há muito tempo lixo espacial.
Tudo isso para não falar da Estação Espacial Internacional. Muito mais complexa que a velha estação russa Mir, ela não poderia ter sido construída sem os ônibus.
E se agora se fala em espaçonaves desenvolvidas pela iniciativa privada como a bola da vez, vale lembrar que, se não houvesse as demandas geradas pela estação, não haveria mercado para elas.
É inegável que um dos objetivos originais do programa foi atingido: os voos espaciais passaram a ser vistos como rotina, parte integrante da vida na sociedade moderna.
Talvez tenha sido esse o maior "pecado". Com a sensação de que os ônibus eram mais que veículos experimentais, ninguém se preparou para encarar os perigos inerentes ao voo espacial -em cada missão, a tripulação está disposta a dar a vida pela conquista do cosmos.


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