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Novo "antibiótico" trata
doença sem matar bactéria
Brasileira nos EUA é co-autora de descoberta
IGOR ZOLNERKEVIC
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Uma equipe de 15 pesquisadores publica hoje na revista
"Science" a descoberta do que
promete ser um tipo revolucionário de "antibiótico". Entre
aspas, porque, a rigor, a substância é um antiinfectivo.
"O nosso "antibiótico" não é
tóxico para a bactéria", explica
uma das autoras do estudo, a
brasileira Vanessa Sperandio,
da Universidade do Texas
(EUA). Em vez de envenenar
bactérias, como todo antibiótico faz, as moléculas do estudo
grudam na superfície delas, evitando que percebam que estão
dentro de um organismo e que
está na hora de atacá-lo.
Algumas bactérias são como
cães; atacam quando "farejam o
medo". Elas percebem que estão dentro do corpo de um hospedeiro quando sentem a presença dos hormônios responsáveis pelo estresse, a adrenalina e a noradrenalina, que também controlam a imunidade.
"Já ouviu falar que quando
estamos estressados é mais fácil ficarmos doentes? Quanto
mais adrenalina e noradrenalina no corpo, mais rápido a bactéria produz suas toxinas ou
penetra as células", diz Sperandio. "Se a bactéria não sente os
hormônios, o sistema imunológico consegue se livrar dela
tranqüilamente."
Esse "farejador de hormônios" existe em pelo menos 25
bactérias que atacam humanos.
"São todas as bactérias que causam diarréias sanguinolentas",
explica Sperandio.
Ela investiga o mecanismo
do "olfato" dessas bactérias
desde 1997. Em 2003, Sperandio e seus colaboradores notaram que era possível "entupir o
nariz" dos microrganismos
com uma molécula apropriada.
Depois de três anos analisando 150 mil moléculas, uma por
uma, encontraram a molécula
chamada de LED209 -que
"enganou" três espécies em laboratório. "Também conseguimos tratar animais -coelhos e
camundongos- infectados
com pelo menos duas das bactérias que estudamos", diz.
O fato da LED209 impedir as
bactérias de provocarem doenças sem eliminá-las é "um marco importantíssimo", comenta
a microbióloga Roxane Piazza,
do Instituto Butantan.
Resistência
Segundo Sperandio, as bactérias resistem hoje a quase todos
os antibióticos que existem. Isso por causa da maneira como
agem esses remédios. "Suponha que um antibiótico mate 10
bilhões de bactérias do seu corpo, mas dez delas sobrevivam.
Essas bactérias resistentes serão a maioria na próxima geração", explica Sperandio.
"Passamos 40 anos sem fazer
progresso em pesquisa de antibióticos, até concluirmos que
precisamos usar mecanismos
de ação diferentes."
O LED209 também anima os
pesquisadores porque não é tóxico às células de mamíferos.
"É promissora para se usar em
humanos", diz Piazza. Ainda
falta muito o que fazer, porém,
para chegar a um novo remédio. Espera-se obter uma droga
segura para testes clínicos em
cinco anos. "Aí tem de vir uma
indústria farmacêutica grande
para tomar o projeto e levar para frente", diz a brasileira.
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