São Paulo, domingo, 22 de agosto de 2010 |
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Cientistas atacam cura com célula-tronco Pesquisadores querem deter propagação de clínicas que oferecem tratamentos milagrosos sem base científica Terapia contra várias doenças existe em 27 países; charlatães usam fragilidade de clientes, dizem pesquisadores
GIULIANA MIRANDA DE SÃO PAULO A proposta é tentadora: cura ou melhora significativa para esclerose múltipla, Alzheimer, lesões na medula e vários outros males que a medicina tradicional até agora não consegue resolver de forma definitiva. Mesmo sem documentação científica que comprove esses resultados, é cada vez maior o número de pessoas que se aventuram por clínicas que oferecem tratamentos com células-tronco. A maioria em países com regras frouxas quanto a seus riscos e eficácia. O chamado "turismo de células-tronco" atingiu escala global e, até maio de 2009, pesquisadores já tinham identificado 27 países que disponibilizam o tratamento. Embora a maioria dos centros fique na Ásia, com destaque para China e Índia, há polos também em países da Europa, como a Alemanha. Para atrair clientes do exterior, as clínicas têm sites bem cuidados -normalmente com versões em inglês e francês- com fotos e depoimentos de pacientes relatando o progresso após serem submetidos à terapia. No topo do ranking de tratamentos estão as doenças degenerativas, como mal de Parkinson. Derrames e diabetes vêm logo atrás, seguidos por lesões na espinha. Embora menos comum, terapia contra HIV/Aids também pode ser encontrada. "As células-tronco são muitas vezes apresentadas como solução milagrosa para qualquer problema. Isso é sensacionalismo. As terapias realmente comprovadas ainda são muito restritas", diz Lygia Pereira, do departamento de Genética e Biologia Evolutiva da USP. ÚNICA ESPERANÇA Uma vez no organismo dos pacientes, as células-tronco estão sujeitas a uma série de problemas, desde o crescimento fora de controle até a transformação em células diferentes das desejadas. Em alguns casos, até tumores. Esses riscos não costumam ser descritos pelas clínicas. Para a geneticista, os centros oferecem falsa esperança de cura e se aproveitam do desespero da doença. "É muito difícil, como profissional e ser humano, dizer para alguém que não existe alternativa, mas os médicos e os pesquisadores têm de ser fortes. A ciência séria precisa de comprovação, por mais tentador que seja", afirma. GUERRA DECLARADA A questão dos bioturistas se tornou tão significativa que a Sociedade Internacional de Pesquisas com Células-Tronco (ISSCR, em inglês) criou um site (www.closerlookatstemcells.org) sobre isso. Além de desmascarar os principais golpes - como simplesmente injetar soro e outras soluções no corpo do paciente- os especialistas se oferecem para analisar clínicas suspeitas. Na página há um guia para download, com informações em cinco idiomas (o português deve entrar na lista até o fim de setembro). Revistas científicas respeitadas, como "Science" e "Nature", têm abordado o tema mais regularmente desde o ano passado. Este mês, a FDA (Federal Drug Administration), órgão que regulamenta os procedimentos médicos nos EUA, entrou na Justiça para impedir que uma clínica do Colorado oferecesse o tratamento com células-tronco. Próximo Texto: Saiba mais: Brasil ainda não tem casos registrados Índice |
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