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Maioria dos testes clínicos é irrelevante, diz estudo
São publicados 75 resultados por dia no mundo, a maioria sem qualidade
Com uma média de 80 participantes em cada trabalho, eles envolvem pelo menos 2 milhões
de pessoas por ano
GIULIANA MIRANDA
DE SÃO PAULO
Pesquisadores da área médica estão exagerando na
quantidade de testes publicados. Boa parte da produção é de baixa qualidade, já
foi publicada em algum outro lugar ou, simplesmente,
não tem relevância.
A afirmação é de cientistas
da Europa e da Austrália, que
fizeram um levantamento sobre os testes clínicos no mundo e constataram: com o
atual volume de produção, é
impossível catalogar e selecionar o que é relevante.
Por dia, são publicados 75
testes clínicos, além de 11 revisões sistemáticas -uma espécie de apanhado com os
resultados mais relevantes
de uma determinada questão, contendo análises aprofundadas de especialistas.
Com uma média de 80 participantes por trabalho, esses
estudos envolveriam, ao todo, cerca de 2 milhões de pessoas por ano, o equivalente à
população de Curitiba (PR).
E esses números podem
estar subestimados. Devido
ao grande volume e à falta de
um sistema de indexação,
não é possível saber se todos
os testes publicados foram
contados, ou mesmo aparecem na lista mais de uma vez.
SEM REVISÃO
Desde 1962, a FDA (agência que regula a venda de medicamentos e alimentos nos
EUA) exige documentos que
provem a eficácia das substâncias que autoriza.
O modelo foi rapidamente
seguido por outros países e,
desde então, a quantidade de
pesquisas publicadas aumentou exponencialmente.
Os pesquisadores afirmam
que isso incentivou a produção de pesquisas sérias, mas
também impulsionou o surgimento de periódicos que
não seguem critérios científicos, cujas publicações "cresceram ainda mais".
A enxurrada de material
de baixa qualidade acabaria
dificultando a identificação e
popularização das pesquisas
realmente relevantes. Isso
faz com que existam vários
testes repetidos, além de desperdiçar tempo, recursos e,
claro, pessoal qualificado para analisar os resultados.
Para resolver a questão, os
cientistas propõem reduzir
drasticamente a quantidade
de testes clínicos e de material publicado.
De acordo com os cientistas, seria bem mais eficiente
investir em análises e revisões sistemáticas que possam atestar a qualidade e a
relevância das pesquisas que
já foram feitas.
"Nós precisamos desenvolver métodos inovadores
para reduzir o trabalho de
atualizar [os bancos de dados] e fornecer aquilo de que
médicos e pacientes precisam: garantia de que a conclusão apresentada não está
ultrapassada", diz o texto.
A pesquisa, publicada na
revista "PLoS Medicine", foi
chefiado por Hilda Bastian,
professora da Universidade
de Colônia (Alemanha).
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