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Seca pode bater recorde na Amazônia
Estiagem de 2010 já empata com a de 2005, e nível de rio chega perto de baixa histórica; Inpe estuda fenômeno
Pesquisador reluta em
culpar aquecimento por
problema; mudanças no
oceano Atlântico podem
estar entre as causas
Rodrigo Baleia/Folhapress
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Barcos encalham com a seca no município de Tefé, AM
CLAUDIO ANGELO
DE BRASÍLIA
A seca de 2010 ainda não
terminou na Amazônia e pode ultrapassar a de 2005 como a mais grave da região
nas últimas quatro décadas.
O nível do rio Solimões
atingiu sua maior baixa histórica no oeste do Amazonas.
Em Manaus, o Negro se aproxima do nível de 1963, o mais
baixo em um século.
Mesmo que a previsão não
se confirme, a floresta já terá
registrado três estiagens extremas em 12 anos, duas delas nos últimos cinco anos:
1998, 2005 e 2010.
E isso se ninguém incluir
na estatística a seca de 2007,
que só atingiu o sudeste amazônico e deixou 10 mil quilômetros quadrados de floresta
calcinados na região.
Cientistas do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) estão coletando dados de chuva e vazão de rios
para tentar descrever o fenômeno deste ano. O que eles
sabem, por enquanto, é que
esta é uma estiagem diferente de tudo o que já se viu.
"Esta seca não foi anunciada", diz José Marengo, climatologista do Inpe.
Segundo ele, nos eventos
extremos de 1998 e 2005, a região começou a secar já no
fim dos anos anteriores.
"Neste ano, tivemos reduções muito pronunciadas em
maio, 40% menos de chuva.
Na de 2005, chegou a 50% de
redução já no início do verão", afirma ele.
Em comum, ambas as secas têm o fato de não terem
sido causadas por El Niños,
como foi o caso de 1998. Naquele ano, apesar de a redução de precipitação ter batido o recorde, os rios amazônicos não sofreram tanto.
"Achava-se que El Niños
fortes explicassem as secas,
mas não é isso o que está
acontecendo agora", diz Marengo. "O El Niño deste ano
foi fraco", continua.
Segundo Javier Tomasella,
também do Inpe, a vazante
anormal do Negro pode ser
explicada pela redução do
volume dos afluentes da
margem sul do Amazonas.
Como o Negro é "represado" pelo Solimões em Manaus, a baixa deste automaticamente faz aquele vazar.
Marengo diz que o aquecimento anormal do Atlântico
tropical norte pode explicar
parte da seca.
O transporte de umidade
para dentro da Amazônia é
influenciado por ventos que
sopram do oceano. Quando o
Atlântico esquenta demais,
ele concentra as chuvas sobre a água mais quente e
afasta a umidade da região.
Essa também é a explicação provável da seca de 2005,
que coincidiu com uma temporada de furacões anormal
na região do Caribe.
Alguns estudos detectaram a influência do aquecimento global no fenômeno
de 2005. "Mas a incerteza é
grande", diz Marengo. Para
ele, a chance de influência
humana nesses extremos climáticos é "50% a 60%".
NOVO CLIMA
Seja como for, o cenário
atual parece uma "avant-première" do futuro clima da região amazônica.
"Aquela Amazônia que tinha estações chuvosas tão
bem definidas que você podia ajustar seu calendário
por elas acabou", afirma o
ecólogo Daniel Nepstad, do
Ipam (Instituto de Pesquisa
Ambiental da Amazônia).
Segundo Nepstad, outro
fator por trás das secas pode
ser a grande quantidade de
queimadas na região -a fumaça inibe a chuva, como já
comprovaram diversos estudos na última década.
"A meu ver, é uma mistura
de agropecuária e gases-estufa, é difícil destrinchar
quanto é um ou outro", afirma o pesquisador. "Não sou
climatologista, mas o tempo
tem mudado nestes meus 25
anos de Amazônia."
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