São Paulo, quinta-feira, 22 de novembro de 2007

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Escorpião de 2,5 m assombrava costa há 390 milhões de anos

Fóssil de uma garra de artrópode achado no sudoeste da Alemanha tem 46 cm; animal gigante habitava estuários

Tamanho excessivo, no entanto, pode ter levado a linhagem dos grandes artrópodes aquáticos a um beco sem saída evolutivo

DA REPORTAGEM LOCAL

Se Jacques Cousteau tivesse inventado o mergulho moderno há 390 milhões de anos e não só há 60 anos, teria sido uma experiência e tanto mergulhar do Período Devoniano. Um fóssil de um escorpião-do-mar gigante apresentado ontem por dois pesquisadores europeus e um americano reforça o que já se sabia do ponto de vista teórico: aquelas eram águas de bichos grandes.
O fóssil, na verdade, é apenas o de uma garra do artrópode. Mas como ela tinha 46 cm, foi possível calcular o tamanho total do invertebrado. O escorpião tinha 2,5 metros de comprimento aproximadamente, o que daria um grande frio na espinha de qualquer mergulhador. E ele não deveria ser o único ser gigante da sua época.
"Essa é uma descoberta surpreendente. Nós já sabíamos, com base em outros fósseis, do tamanho daqueles monstros, mas nunca havíamos nos dado conta, até agora, do quanto aquelas criaturas eram realmente grandes", explica Simon Braddy, da Universidade de Bristol, Reino Unido, um dos autores do estudo.
A garra do escorpião-do-mar, da espécie Jaekelopterus rhenaniae -carinhosamente apelidado Jake-, foi descoberta em escavações feitas na cidade de Prüm, no sudoeste alemão, próximo às fronteiras com a Bélgica e com Luxemburgo. Apesar do nome, é mais provável que o bicho habitasse os estuários do Devoniano, zonas costeiras rasas.
O achado coube ao paleontólogo alemão Markus Poschmann, do Museu de História Natural de Mainz. "Depois de limpar umas rochas, eu pude identificar que uma delas era um pequeno fragmento de uma garra", explica. Os pedaços da garra tiveram que ser colados para ficarem juntos.
Mesmo com o fóssil em mãos, falta explicar agora como aqueles verdadeiros monstros marinhos, que dariam inveja a qualquer cartunista de ficção científica, conseguiam atingir tamanhos excepcionais.
Algumas hipóteses, entretanto, já existem.
"Não existe uma explicação simples", disse Braddy. "O mais plausível é que alguns artrópodes daquele tempo eram grandes porque existia pouca competição com os vertebrados", explica o pesquisador da Universidade de Bristol.
Para ele, a tese de que as dimensões exageradas do animal se deviam ao fato de que havia muito mais oxigênio no ar há 390 milhões de anos não é necessariamente uma explicação viável. "Isso explicaria algo se todas as espécies tivessem ficado grandes também."

Exagero improdutivo
Os escorpiões-do-mar pertencem ao grupo dos euripterídeos, já extinto. Os aracnídeos atuais (como os escorpiões terrestres) teriam surgido depois desses monstros marinhos.
Os paleontólogos, em sua maioria, teorizam que o gigantismo acabou sendo improdutivo para esses seres marinhos. Os grandes escorpiões não conseguiram migrar para a terra e começar uma nova vida no fim do Devoniano, quando os animais começaram a invadir a terra. A linhagem teria entrado num beco sem saída evolutivo.
Os animais menores e mais versáteis é que teriam conseguido chegar ao ambiente terrestre e, então, evoluir na direção dos artrópodes atuais -o que deixou os mergulhos amadores menos divertidos.


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