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Sexo, drogas e geoengenharia
Autores de "Freakonomics" voltam à carga em livro que argumenta que é inútil reprimir a prostituição
e o narcotráfico
RICARDO MIOTO
DA REPORTAGEM LOCAL
A prostituição está em decadência. Em poucas décadas, os salários despencaram, junto com o
número de profissionais. O culpado? O feminismo.
Afinal, as independentes
mulheres contemporâneas que
fazem sexo sem compromisso
e de graça impuseram uma
concorrência desleal às que desejam cobrar pelo serviço.
Quem disso isso são o economista Steven Levitt e o jornalista Stephen Dubner, autores
de "SuperFreakonomics". O livro, recém-lançado, é uma continuação do best-seller "Freakonomics", de 2005.
No primeiro livro, a dupla fez
barulho ao dizer que existe correlação entre a liberação do
aborto nos EUA nos anos 1970
e a queda nos crimes após duas
décadas. No segundo, dedicam
um capítulo à prostituição.
O sexo era encarado de forma muito diferente no começo
do século passado, dizem. Havia mais pudor. Agendas repletas de telefones à disposição
para uma noite mais empolgada não existiam. Festas eram
um evento social, e não sexual
-agradeça, portanto, por não
ter nascido naquela época.
Para cada quatro homens
que diziam ter perdido a virgindade com prostitutas entre
1933 e 1942, hoje há apenas
um. Além disso, a prostituição
era -e ainda é- ilegal na maioria dos EUA. A clandestinidade
fazia com que a oferta de garotas de programa diminuísse.
Quando a demanda é alta e a
oferta pequena, o resultado é
óbvio. Prostitutas de Chicago
ganhavam nos anos 1910 mais
de US$ 6.000 por mês, em valores corrigidos. As melhores
faziam mais de US$ 35 mil.
Ainda há prostituição de luxo, claro. Mas ela é apenas uma
fração do que já foi. Garotas de
programa se espalharam pelas
ruas, o ambiente ao seu redor
se encheu de viciados. Elas próprias passaram a usar bem
mais drogas.
Imposto sobre serviço
Apesar de a prostituição ainda ser proibida, a polícia raramente cria problemas com as
meninas. Ainda porque, hoje
em dia, afirmam os autores,
cerca de 3% dos "encontros"
das prostitutas de rua de Chicago são com policiais e de graça
-um suborno sexual.
Como dizem os autores, "os
dados não mentem: é muito
mais provável que as prostitutas de rua de Chicago façam sexo com os policiais do que sejam presas por eles".
Aí surge uma questão: se os
policiais fossem realmente duros com a prostituição -ao melhor estilo tolerância zero-, será que ela desapareceria?
Não. Porque não adianta
prender quem oferece o serviço. Quanto mais isso é feito,
menor fica a oferta. Sobem, então, os preços. Quanto mais as
prostitutas ganham, mais meninas entram na profissão.
Neste caso, portanto, você
pode fazer a lei mais rígida que
quiser. Chegará um momento
em que a recompensa financeira de passar por cima dela será
tão forte que não adiantará.
A solução, então, seria reprimir os clientes. Aí se corta a demanda, em vez da oferta, e a
prostituição sofre um golpe.
Mas é difícil prendê-los. Em
primeiro lugar, são muitos.
Mais: eles desaparecem com a
mesma velocidade com que
aparecem. É muito mais complicado pegar um cliente do que
uma prostituta.
O interessante é que exatamente o mesmo raciocínio serve para as drogas. Quanto mais
traficantes são presos, mais sobe a renda dos que restam. Acabe com todos, e o preço das drogas tenderá ao infinito, tornando o ofício mais tentador.
Outro assunto do livro é o
aquecimento global. Os autores
defendem que é melhor dar um
jeito artificial de esfriar o planeta do que lutar contra as
emissões de CO2.
A ideia é fazer artificialmente o que os vulcões fazem naturalmente. Quando vulcões
muito grandes entram em
erupção, o planeta esfria. Isso
acontece porque eles jogam
dióxido de enxofre na estratosfera - a geoengenharia humana poderia fazer isso, dizem.
É o capítulo que vem gerando mais polêmica. Algumas das
críticas se relacionam com a
ideia de que mexer na natureza
mais ainda para resolver velhos
problemas só vai servir para
criar problemas novos e desconhecidos. Outras dizem que os
cálculos são frouxos e que tudo
não passa de um chute. Em geral, mesmo entusiastas da
geoengenharia não descartam
a importância de reduzir o CO2.
Ciumeira
Levitt e Dubner apresentam
uma mágoa. É duro gostar de
microeconomia -essa economia que lida com o cotidiano,
com as escolhas individuais.
São sempre os macroeconomistas, dizem, como seus papos
sobre "inflação, recessões e
choques financeiros", que estão sempre nos jornais. Quando economia vai bem, são gênios. Quando vai mal, idiotas.
Mas não saem das manchetes.
Os livros, então, nada mais
são do que uma tentativa de
mostrar que, sim, existe economia além dos bancos centrais.
Apareça com um banco de dados que os microeconomistas,
dizem, estarão lá formulando
hipóteses para explicá-los. Podem surgir bobagens, mas o resultado é, em geral, muito bom.
LIVRO - "SuperFreakonomics"
de Steven Levitt e Stephen Dubner;
Elsevier, 247 páginas., R$ 66
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