São Paulo, domingo, 22 de novembro de 2009

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Sexo, drogas e geoengenharia

Autores de "Freakonomics" voltam à carga em livro que argumenta que é inútil reprimir a prostituição e o narcotráfico

RICARDO MIOTO
DA REPORTAGEM LOCAL

A prostituição está em decadência. Em poucas décadas, os salários despencaram, junto com o número de profissionais. O culpado? O feminismo.
Afinal, as independentes mulheres contemporâneas que fazem sexo sem compromisso e de graça impuseram uma concorrência desleal às que desejam cobrar pelo serviço.
Quem disso isso são o economista Steven Levitt e o jornalista Stephen Dubner, autores de "SuperFreakonomics". O livro, recém-lançado, é uma continuação do best-seller "Freakonomics", de 2005.
No primeiro livro, a dupla fez barulho ao dizer que existe correlação entre a liberação do aborto nos EUA nos anos 1970 e a queda nos crimes após duas décadas. No segundo, dedicam um capítulo à prostituição.
O sexo era encarado de forma muito diferente no começo do século passado, dizem. Havia mais pudor. Agendas repletas de telefones à disposição para uma noite mais empolgada não existiam. Festas eram um evento social, e não sexual -agradeça, portanto, por não ter nascido naquela época.
Para cada quatro homens que diziam ter perdido a virgindade com prostitutas entre 1933 e 1942, hoje há apenas um. Além disso, a prostituição era -e ainda é- ilegal na maioria dos EUA. A clandestinidade fazia com que a oferta de garotas de programa diminuísse.
Quando a demanda é alta e a oferta pequena, o resultado é óbvio. Prostitutas de Chicago ganhavam nos anos 1910 mais de US$ 6.000 por mês, em valores corrigidos. As melhores faziam mais de US$ 35 mil.
Ainda há prostituição de luxo, claro. Mas ela é apenas uma fração do que já foi. Garotas de programa se espalharam pelas ruas, o ambiente ao seu redor se encheu de viciados. Elas próprias passaram a usar bem mais drogas.

Imposto sobre serviço
Apesar de a prostituição ainda ser proibida, a polícia raramente cria problemas com as meninas. Ainda porque, hoje em dia, afirmam os autores, cerca de 3% dos "encontros" das prostitutas de rua de Chicago são com policiais e de graça -um suborno sexual.
Como dizem os autores, "os dados não mentem: é muito mais provável que as prostitutas de rua de Chicago façam sexo com os policiais do que sejam presas por eles".
Aí surge uma questão: se os policiais fossem realmente duros com a prostituição -ao melhor estilo tolerância zero-, será que ela desapareceria?
Não. Porque não adianta prender quem oferece o serviço. Quanto mais isso é feito, menor fica a oferta. Sobem, então, os preços. Quanto mais as prostitutas ganham, mais meninas entram na profissão.
Neste caso, portanto, você pode fazer a lei mais rígida que quiser. Chegará um momento em que a recompensa financeira de passar por cima dela será tão forte que não adiantará.
A solução, então, seria reprimir os clientes. Aí se corta a demanda, em vez da oferta, e a prostituição sofre um golpe.
Mas é difícil prendê-los. Em primeiro lugar, são muitos. Mais: eles desaparecem com a mesma velocidade com que aparecem. É muito mais complicado pegar um cliente do que uma prostituta.
O interessante é que exatamente o mesmo raciocínio serve para as drogas. Quanto mais traficantes são presos, mais sobe a renda dos que restam. Acabe com todos, e o preço das drogas tenderá ao infinito, tornando o ofício mais tentador.
Outro assunto do livro é o aquecimento global. Os autores defendem que é melhor dar um jeito artificial de esfriar o planeta do que lutar contra as emissões de CO2.
A ideia é fazer artificialmente o que os vulcões fazem naturalmente. Quando vulcões muito grandes entram em erupção, o planeta esfria. Isso acontece porque eles jogam dióxido de enxofre na estratosfera - a geoengenharia humana poderia fazer isso, dizem.
É o capítulo que vem gerando mais polêmica. Algumas das críticas se relacionam com a ideia de que mexer na natureza mais ainda para resolver velhos problemas só vai servir para criar problemas novos e desconhecidos. Outras dizem que os cálculos são frouxos e que tudo não passa de um chute. Em geral, mesmo entusiastas da geoengenharia não descartam a importância de reduzir o CO2.

Ciumeira
Levitt e Dubner apresentam uma mágoa. É duro gostar de microeconomia -essa economia que lida com o cotidiano, com as escolhas individuais. São sempre os macroeconomistas, dizem, como seus papos sobre "inflação, recessões e choques financeiros", que estão sempre nos jornais. Quando economia vai bem, são gênios. Quando vai mal, idiotas. Mas não saem das manchetes.
Os livros, então, nada mais são do que uma tentativa de mostrar que, sim, existe economia além dos bancos centrais. Apareça com um banco de dados que os microeconomistas, dizem, estarão lá formulando hipóteses para explicá-los. Podem surgir bobagens, mas o resultado é, em geral, muito bom.


LIVRO - "SuperFreakonomics"

de Steven Levitt e Stephen Dubner; Elsevier, 247 páginas., R$ 66




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