São Paulo, terça-feira, 23 de janeiro de 2007

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Grupo testa vacina adesiva contra mal de Alzheimer

Experimento tem como objetivo reduzir perda de memória em camundongos

Mais seguro, segundo os cientistas, o novo método é uma boa alternativa à injeção convencional, que teve problemas em testes

EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL

O tratamento da perda da memória induzida pelo mal de Alzheimer poderá começar a ser feito pela pele -pelo menos em camundongos.
Um estudo publicado na edição de hoje da revista científica "PNAS" (www.pnas.org) mostra que pesquisadores da Universidade do Sul da Flórida (Estados Unidos) obtiveram resultados significativos com uma espécie de vacina aplicada à pele por meio de um adesivo, como nos medicamentos para parar de fumar.
"As vacinas convencionais que estão sendo testadas não são idênticas às usadas para infecções. Em vez de uma ou duas doses, será preciso tomar várias injeções para o resto da vida para que algum grau de proteção ocorra", explica Jun Tan, um dos autores do trabalho norte-americano.
Nesse caso, o medicamento é injetado diretamente na veia, sem ser absorvido pela pele.
Segundo o pesquisador, por ser muito simples e pouco invasiva é que a técnica do adesivo cutâneo foi pensada por ele e seus colaboradores como uma opção viável.
"Já vimos que existe um potencial promissor para essa técnica, que poderá transformar-se em uma terapia eficiente contra o Alzheimer", explica.
O caminho convencional, também em estudo, sofreu um duro golpe recentemente.
Depois de passar com sucesso pela fase de testes no laboratório, o medicamento chegou a ser aplicado em humanos. Estudos publicados em 2003 e 2005 mostraram que, em 6% dos pacientes testados, a vacina causou inflamação cerebrais sérias. Alguns pacientes morreram por causa disso.
"Esse foi um efeito secundário da reação auto-imune. As células do próprio corpo atacaram de forma agressiva as proteínas produzidas pelo organismo", explica Tan.
Apesar dos efeitos indesejados, os estudos continuaram. No mesmo grupo que recebeu as doses, alguns pacientes não sofreram com os efeitos adversos e ainda tiveram melhora em seus níveis de inflamação.
Um grupo de pesquisa europeu, por exemplo, que usa um mecanismo convencional um pouco diferente do utilizado no passado (para tentar fugir das respostas auto-imunes), anunciou no início do mês que vai iniciar em três anos os testes em humanos de uma vacina contra o Alzheimer.
No caso da pele, explica Tan, as células presentes nesse órgão -o maior do corpo humano- não geram os mesmos efeitos colaterais já observados. "Muito pelo contrário. Ela até ajuda o processo a surtir efeito", afirma.

Proteína destruidora
Os pesquisadores já sabem que o Alzheimer é provocado pelo acúmulo excessivo da proteína beta-amilóide. Essa molécula forma placas no cérebro, ocasionando inflamações que acabam por destruir os neurônios que estavam sadios. É exatamente contra ela que a vacina deverá atuar.
Os cientistas, por enquanto, preferem a cautela quando o assunto é passar para a próxima fase da pesquisa.
"Nós esperamos que os próximos experimentos, que serão feitos em camundongos, consigam reduzir a perda de memória induzida pelo Alzheimer, como também, que as placas "senis" sejam reduzidas."
Segundo Tan, se tudo ocorrer bem e a próxima fase também for um sucesso, é que os próximos passos [os testes em humanos] serão pensados.
Como mirar o futuro também é uma mania dos cientistas, o pesquisador radicado na Flórida deixou escapar um pequeno otimismo. "Além do adesivo, talvez seja possível até pensar em alguma substância tópica [uma pomada ou gel, por exemplo] para ser aplicada sobre a pele."


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