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GEOLOGIA
Choque ocorrido há 250 milhões de anos extinguiu maioria das espécies e permitiu evolução dos répteis gigantes
Cometa abriu caminho para dinossauros
SALVADOR NOGUEIRA
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Todo mundo conhece a triste
história do asteróide que matou
os dinossauros há 65 milhões de
anos. O que ninguém sabia era a
história de outro titã, que permitiu que esses animais gigantes tomassem conta da Terra.
Agora, um grupo de cientistas
de diversas instituições americanas, como a Universidade de
Washington, a Universidade de
Rochester e a Nasa (agência espacial dos EUA), mostrou que os dinossauros não podiam queixar-se
de perseguição. Afinal, foi o mesmo tipo de evento que permitiu
que passassem a dominar o planeta, 185 milhões de anos antes.
A equipe conseguiu provas de
que a extinção maciça que aconteceu na Terra há 250 milhões de
anos, eliminando 90% das criaturas marinhas, 70% das espécies
vertebradas terrestres e quase todas as formas vegetais, também
foi causada pelo impacto de um
corpo celeste. Só depois desse cataclismo os dinossauros deram o
ar da graça sobre a Terra.
Impressões digitais
Os cientistas encontraram as
provas do impacto em rochas sedimentares de três diferentes regiões, no Japão, na China e na
Hungria. Nessas rochas, de 250
milhões de anos de idade, foram
achadas moléculas orgânicas
complexas conhecidas como
"buckyballs" (veja quadro à direita), estruturas fechadas de carbono que mais parecem uma bola de
futebol. Elas guardavam em seu
interior certos gases nobres, precisamente hélio e argônio.
As proporções entre vários tipos (isótopos) do mesmo elemento não eram compatíveis
com as existentes em rochas de
períodos anteriores ou posteriores. Mais do que isso, eram muito
mais parecidas com as encontradas em condritos (material muito
comum em asteróides) do que
com as proporções terrestres.
"Essa é a primeira vez que indicações claras de material extraterrestre são encontradas na fronteira entre o Permiano e o Triássico
(transição ocorrida há 250 milhões de anos)", contou à Folha
Michael Rampino, um dos autores da nova pesquisa.
O uso das "buckyballs" (que ganharam esse nome por seu formato de esfera geodésica, uma
criação do arquiteto Richard
Buckminster Fuller) como "guardadoras" naturais de informação
já ajudou pesquisas com outro
impacto de asteróide -o famoso,
que matou os dinossauros.
"Pesquisas com gases presos em
terrenos de 65 milhões de anos
mostram padrão de proporções
de isótopos bem similar ao que
encontramos", disse Rampino.
Essas moléculas são normalmente encontradas em asteróides
e talvez ocorram em cometas. Seu
conteúdo revela sua origem, dando aos pesquisadores pistas para
saber se as "buckyballs" estudadas eram da Terra ou provenientes de um outro corpo celeste.
Comparando as pancadas
Embora a extinção de 250 milhões de anos atrás tenha sido ainda mais violenta que a dos dinossauros, acredita-se que o asteróide ou cometa tivesse as mesmas
proporções nos dois casos, em
torno de 10 km de diâmetro.
Andrew Hunt, um dos cientistas envolvidos no estudo, aposta
em uma diferença. Enquanto o
impacto dos dinossauros teria sido de um asteróide, o anterior teria sido de outra classe de objetos.
"A falta de irídio nos sedimentos
pode ser um indicativo de um impacto cometário", diz.
Dificilmente os cientistas conseguirão encontrar a cratera provocada pelo choque, como fizeram
com aquela aberta pelo "carrasco" dos dinossauros. A configuração dos continentes mudou muito daquela época para cá.
De um jeito ou de outro, o choque teria desencadeado uma longa série de erupções vulcânicas,
que também contribuiriam para a
destruição em escala planetária.
"Não sabemos de todas as consequências ambientais, mas, com
o impacto e com a atividade vulcânica, sabemos que a Terra não
era um lugar feliz. Talvez os efeitos combinados do impacto e do
vulcanismo fossem necessários
para causar uma extinção violenta como aquela", disse Robert Poreda, outro dos autores, em nota.
O trabalho foi apresentado ontem numa entrevista coletiva no
quartel-general da Nasa, em Washington. O estudo sai na edição de
hoje da revista "Science"
(www.sciencemag.org).
Próximos passos
Hunt acredita que a técnica utilizada para constatar o impacto
do final do Permiano, há 250 milhões de anos, possa ajudar a explicar outras extinções.
"Esperamos poder resolver
muitos problemas ligados às
grandes extinções, como a do fim
do Devoniano e a do Triássico/
Jurássico, que ocorreram ao longo do Fanerozóico (época que começou há 540 milhões de anos e
ainda não terminou)", afirmou.
Já Rampino dá mais detalhes
sobre os planos imediatos da
equipe, que deve detalhar a constatação realizada pelo estudo
atual -um trabalho feito durante
dois anos, mas que é fruto de pesquisas anteriores do grupo com
"buckyballs", iniciadas em 1994.
"Pretendemos procurar moléculas semelhantes em outras localidades, como por exemplo a África do Sul, onde elas estariam preservadas em uma camada de rochas com grande quantidade de
animais que sofreram dramática
extinção", diz o pesquisador.
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