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Mata preservada em rios precisa dobrar
Estudo em MT mostra que animais fogem de áreas de preservação permanente estreitas; cientista pede mudança na lei
Tamanho ideal deve ser de 400 metros de largura para rios pequenos, muito acima do que exige atualmente o Código Florestal do país
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
No Congresso Nacional, projetos visam a diminuir as áreas
de proteção florestal na Amazônia. No mundo real, cientistas acabam de estimar que, na
verdade, pelo menos as áreas de
proteção permanente localizadas ao lado dos rios precisam
ser alargadas, e muito.
Um estudo liderado pelo ecólogo Carlos Peres, 44, belenense há 13 anos na Inglaterra,
mostra que o tamanho mínimo
para que a mata de galeria possa preservar a biodiversidade
local é de 400 metros de largura, 200 metros de cada lado.
"Nós medimos 200 corredores e só 14% deles têm esse tamanho de mata de galeria
ideal", afirma Peres, professor
da Universidade de East Anglia,
à Folha. O cientista acaba de
publicar um artigo sobre o estudo feito no Brasil na revista
"Conservation Biology".
Para chegar as dimensões
ideais da mata de galeria, os
pesquisadores investigaram a
riqueza da fauna de 37 locais
durante seis meses. Todas as
áreas amostradas ficam no município de Alta Floresta (MT).
Elas estão espalhadas por um
terreno de 6.000 km2.
"Claro que não é apenas a
largura que importa. É fundamental que essa mata seja bastante preservada. Muitas vezes,
o proprietário da terra permite
que o gado paste nessas áreas e
que ocorra também a exploração seletiva de madeira."
Depois de analisar a estrutura dos bosques escolhidos para
a análise e de contar o número
de espécies de aves e mamíferos que freqüentavam as matas
de galeria, os cientistas fizeram
gráficos, cruzando essas variáveis, para saber a medida ideal
da área a ser preservada.
Politicamente possível
"É bom dizer que essa análise, em termos biológicos, mostra que o ideal é 400 metros.
Porém, em termos políticos, sei
que isso pode ser impossível de
ser obtido", explica Peres.
Ainda assim, diz o pesquisador, daria para fazer uma "concessão". Seria possível estabelecer que a obrigação legal das
áreas de preservação permanente ao lado de rios passem a
ter, pelo menos, 100 metros de
cada lado. "Isso é dez vezes
mais do que a legislação prevê
em algumas situações", diz o
pesquisador brasileiro.
Pelo Código Florestal brasileiro, os rios com menos de 10
metros de largura precisam ter
uma mata de galeria de 30 metros de largura de cada lado. Essa obrigação varia de 10 metros
a 50 metros de largura, para
cursos d'água com um largura
aproximada de 50 metros.
Em todos os bosques, 24 deles conectados a outros fragmentos florestais e oito sem ligação alguma com outras zonas
de preservação (os cinco restantes foram analisados para
efeito de comparação), foram
identificadas, no total, 365 espécies de aves e 27 de mamíferos, sendo cinco de primatas.
Mas nas matas de galeria estreitas, com menos de 200 metros de largura, e sem conexão
com outros trechos de floresta,
a situação é mais crítica. Apenas um terço das espécies de
pássaros e um quarto dos mamíferos vivem com freqüência
nessas regiões, em comparação
com os corredores mais largos.
Impacto bovino
O estudo das áreas de galeria
também flagra, com clareza, a
presença de rebanhos bovinos
no norte de Mato Grosso.
A marca dos bois foi identificada no campo em 70% dos
corredores conectados com outros pedaços de florestas e em
89% das zonas isoladas. Quanto
ao fogo, ele esteve presente,
respectivamente, em 16% e 2%
das áreas. "Quanto ao gado, não
tem jeito. É preciso impedir a
entrada dele", disse.
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