|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Anticorpo derrota vírus da gripe aviária, diz estudo
Moléculas descobertas por equipes dos EUA atacam pedaço do vírus que não sofre mutação e podem ser chave para vacina universal
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Três equipes de cientistas
nos EUA conseguiram nocautear várias linhagens do vírus
da gripe, incluindo a variante
que causa a gripe aviária e a responsável pela gripe espanhola,
a pandemia (epidemia global)
que matou mais de 20 milhões
de pessoas entre 1918 e 1920.
Os anticorpos que os pesquisadores produziram foram capazes de proteger camundongos de doses letais desses vírus,
criando a possibilidade de novas terapias para tratar ou prevenir tanto pandemias quanto
os surtos sazonais de gripe.
O método usado evitou o alvo
mais tradicional do combate ao
vírus da gripe, a sua superfície
infectante, que costuma sofrer
mutações rápidas e tem impedido a criação de uma vacina
eficaz e universal. Em vez de
dar um soco nessa cara mutante do vírus, a técnica foi equivalente a dar um golpe de caratê
no seu pescoço rígido.
Esses vírus são conhecidos
como vírus da gripe (ou influenza) tipo A. O influenza
tem várias linhagens de acordo
com o tipo de proteína na superfície. São duas as proteínas
fundamentais para a infecção: a
hemaglutinina (H) e a neuraminidase (N). A hemaglutinina
ajuda o vírus a "grudar" na célula e introduzir nela seu material genético para forçá-la a
produzir novos vírus, cuja saída
da célula é mediada pela neuraminidase. Os subtipos de vírus
são nomeados de acordo com
essas proteínas, como H5N1
(da gripe aviária) ou H1N1 (da
gripe espanhola).
Surtos sazonais de gripe matam todo ano cerca de 250 mil
pessoas em todo o mundo. As
vacinas existentes fazem o organismo produzir anticorpos
para se proteger apenas contra
a linhagem do momento.
"E a cada trinta anos em média surge uma pandemia. Já está na hora de surgir uma e nós
não sabemos como será esse vírus", declarou um dos líderes
da pesquisa, Robert Liddington, do Instituto Burnham para
Pesquisa Médica, na Califórnia,
numa teleconferência.
"Descobrimos anticorpos,
agentes antivirais naturais, fora
do comum, pois são capazes de
se ligar a uma região abaixo da
superfície do vírus", diz Liddington. A descoberta está relatada em artigo publicado on-line na revista "Nature Structural & Molecular Biology".
A hemaglutinina na superfície viral lembra um "pirulito",
diz outro dos 19 autores do estudo, Ruben Donis, do Centro
para Controle e Prevenção de
Doenças. Existem 16 "sabores"
de hemaglutinina, mas a haste
do pirulito permanece a mesma, "altamente conservada".
O sistema de defesa do corpo
geralmente não enxerga esse
"pescoço" e tenta atacar a mais
visível "cabeça". Mas a equipe
vasculhou e encontrou alguns
anticorpos monoclonais (proteínas derivadas de uma mesma linhagem celular) que foram capazes de atacar a haste.
Um deles, conhecido como F10,
foi bem sucedido contra 8 dos
16 tipos de hemaglutinina.
Ao se ligarem nas hastes das
proteínas, os anticorpos impedem que o vírus mude de forma
e consiga se fundir na célula.
Segundo Wayne Marasco, do
Instituto do Câncer Dana-Farber, de Boston, uma terapia
usando esses anticorpos monoclonais poderia ser útil para
pessoas mais vulneráveis, como trabalhadores de saúde. Já
em 2011-2012 poderiam ser feitos testes clínicos, diz Marasco.
"Coquetéis" desses anticorpos poderiam ser eficazes contra todas as linhagens de gripe.
"Ao fazer mutação [na haste], o
vírus estaria cometendo suicídio", diz Donis.
Em caso de uma pandemia,
os anticorpos monoclonais
também serviriam como uma
linha de defesa adicional.
Texto Anterior: Planetário terá telescópio para ver o fenômeno Próximo Texto: Biossegurança: Estudo vê transgenes em milho selvagem Índice
|