São Paulo, sexta-feira, 23 de março de 2001

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CLONAGEM

Brasileiro que copiou bezerra não descarta uso da técnica em humanos

"Pai" de Vitória quer controle social

Sérgio Lima/Folha Imagem
Rodolfo Rumpf, cientista brasileiro que clonou a bezerra Vitória


DA REPORTAGEM LOCAL

Vitória, o primeiro animal a ser clonado no Brasil, e Dolly, o primeiro animal clonado a partir de uma célula adulta, têm mais coisas em comum do que à primeira vista se pode imaginar.
Dolly teve como "pai" o pesquisador escocês Ian Wilmut. Vitória, o brasileiro Rodolfo Rumpf. Rumpf, porém, aprendeu algumas das técnicas necessárias com Lawrence Smith, ex-aluno de Ian Wilmut, hoje na Universidade de Montreal (Canadá).
"Liguei para o Lawrence, contando da Vitória, para compartilhar o mérito. Ele, no entanto, respondeu que o mérito era nosso, pois estávamos trabalhando há muito tempo e com determinação para chegar a esse resultado", disse Rumpf à Folha, por celular, de uma estrada que o levava para fora de Brasília e para longe do assédio da imprensa, após o anúncio do nascimento da bezerra da raça simental, anteontem.
Vitória nasceu numa época em que a clonagem está na ordem do dia, em grande parte devido ao furor desencadeado pelo anúncio de pesquisadores na Itália de que pretendem clonar seres humanos.
"Eu não sou contra nenhum tipo de pesquisa. E nem seria contra a clonagem humana, se ela fosse utilizada especificamente para situações muito peculiares. O problema é como fiscalizar isso. A sociedade precisa criar mecanismos de controle, não só para a clonagem, mas para todas as tecnologias de ponta", afirma.
Rumpf está na Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) desde 1989. Com doutorado na Áustria, na área de reprodução animal, e casado com outra pesquisadora da mesma instituição, Rose Monnerat, Rumpf foi para a empresa para trabalhar com recursos genéticos.
"Enquanto estava na Epagri (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina), já tínhamos trabalhos em colaboração sobre o gado lageano (oriundo da região de Lages, em Santa Catarina, resistente a baixas temperaturas, mas que se adapta bem às condições do planalto Central)", conta Rumpf.
Rumpf espera, com os resultados obtidos agora, unir as diferentes áreas de pesquisa da Embrapa.
"Temos um projeto de conservação animal, outro de caracterização, outro que faz a prospecção gênica e o nosso, que faz o desenvolvimento de biotécnicas. Se algum deles encontrar um gene de interesse, poderemos rapidamente transferi-lo para modelos comerciais de animais."
Rumpf acha que um animal transgênico resistente a doenças traria uma melhora na qualidade dos subprodutos para o consumidor. A pesquisa com Vitória foi financiada em parte pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Distrito Federal (FAP-DF). (IG)


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