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Grupo refaz passos de Darwin no Brasil
Pesquisadoras do Rio localizam estrada usada pelo pai da teoria da evolução e fazenda onde ele se hospedou há 176 anos
Projeto antecipa celebração do Ano de Darwin, em 2009; floresta elogiada por ele em Niterói é hoje ponto de "desova" de cadáveres
ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO
Após 176 anos da passagem
do navio inglês HMS Beagle pelo Brasil, um grupo de pesquisadores brasileiros busca as
"pegadas" deixadas no país por
seu passageiro mais ilustre: o
naturalista Charles Robert
Darwin (1809-1882).
Uma pequena parte do trajeto feito no Rio já foi identificada. Pesquisadoras da UFF
(Universidade Federal Fluminense) localizaram uma estrada usada por Darwin e uma fazenda onde o cientista repousou em viagem pelo interior.
O então estudante de 22 anos
de Cambridge embarcou no navio da Marinha britânica em
1831, acompanhando uma expedição cujo objetivo era dar
uma volta ao mundo e identificar rotas de navegação.
Darwin estudava para ser
clérico e teve de convencer o
pai a deixá-lo embarcar no Beagle e ficar quatro anos e nove
meses longe de casa. Durante a
viagem, escreveu um diário e
um caderno de campo em que
descrevia o ambiente que via.
As observações culminaram na
teoria da seleção natural como
mecanismo da evolução.
O diário, publicado depois no
livro "A Viagem do Beagle", serviria ainda de inspiração a outro jovem naturalista, o galês
Alfred Russel Wallace. Ele acabou descobrindo a seleção natural de forma independente.
Os trabalhos de ambos foram
apresentados à Sociedade Lineana de Londres em 1858. No
ano seguinte, Darwin publicou
"A Origem das Espécies", um
dos livros mais importantes da
história da ciência.
Força-tarefa
A busca pelas marcas de Darwin no Brasil faz parte das comemorações, no ano que vem,
de 200 anos de seu nascimento
e de 150 anos da publicação do
livro que marcou a ciência.
O Rio de Janeiro foi o local
onde ele passou mais tempo no
país. Durante os 93 dias em que
permaneceu na região, viajou
até Macaé (a 188 km da capital),
caçou no Jardim Botânico e
morou em Botafogo, ao pé do
Corcovado -à época sem o
Cristo Redentor-, de acordo
com os pesquisadores.
As observações, segundo seu
diário de campo, "limitaram-se
quase exclusivamente aos animais invertebrados".
O Ministério de Ciência e
Tecnologia montou uma espécie de força-tarefa para identificar os locais por onde ele
passou. Seus relatos não fazem referência exata aos pontos visitados, apenas às características naturais do entorno, dificultando o trabalho.
A intenção é marcar os locais
com referências feitas em seu
diário. O ministério vai lançar
ainda um livro com trechos de
diários, artigos e cartas em que
Darwin se refere ao Brasil.
"O primeiro local onde ele se
deparou com a intensidade e
diversidade da natureza tropical foi o Brasil. O nosso palco foi
privilegiado na construção de
uma teoria que é uma das mais
importantes da cultura humana", afirmou o diretor do Departamento de Popularização
da Ciência e Tecnologia do ministério, Ildeu Moreira.
De floresta a cemitério
A bióloga Sandra Selles e a
historiadora Martha Abreu, da
UFF, conseguiram identificar
há oito anos a estrada por onde
Darwin passou e uma casa onde
ficou em viagem ao norte do
Rio. Segundo elas, Darwin subiu de mula a Serra da Tiririca,
em Niterói, acompanhado de
outras seis pessoas. Usou a estrada do Vai-e-Vem até chegar
à Fazenda Itaocaia.
Em seu diário de viagem,
Darwin classificou o local- onde hoje está o Parque Estadual
da Serra da Tiririca- como
uma "floresta cuja magnificência não podia ser superada".
Mesmo sendo ainda um belo
trajeto, a estrada também serve
atualmente para "desova" de
carros incendiados e até de corpos. O Instituto Estadual de
Floresta planeja construir um
pórtico para o "caminho de
Darwin" e placas pelo trajeto.
"Além da dimensão biológica
[da visita de Darwin], a dimensão histórica é importante para
valorizar também a preservação do ambiente", disse Selles. Hoje a única marca
"histórica" da Fazenda
Itaocaia consta no vaso da
mesa central da sala: "Fazenda usada nas gravações da novela "Tocaia
Grande" da TV Manchete. 1995-1996".
Na Bahia, sabe-se
que o hotel Universo, onde se hospedou em Salvador,
foi demolido.
Ele ficava onde está hoje a
praça Castro Alves.
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