São Paulo, terça, 23 de março de 1999
Próximo Texto | Índice

Técnica desentope artéria com coágulo

DANIELA SANDLER
da Reportagem Local

Uma terapia que dissolve até 75% de coágulos e placas de gordura em artérias, desenvolvida por cientistas da Universidade Stanford, foi apresentada ontem num encontro em Orlando (EUA).
Michael Kuo, coordenador da pesquisa, disse à Folha que os resultados são muito animadores e a terapia deve estar disponível nos próximos anos.
O tratamento usa, de forma nova, um gene capaz de dissolver coágulos chamado tPA (ativador do plasminogênio tecidual).
O gene é inserido nas células de uma veia saudável por meio de vírus inofensivos (que tiveram sua carga genética retirada), fazendo com que essas células o produzam em maior quantidade.
A veia alterada é enxertada na artéria obstruída. O tPA secretado por ela reduz a obstrução arterial em 75%, fazendo o fluxo de sangue voltar praticamente ao normal.
Outra vantagem do novo tratamento é que o diâmetro da veia enxertada aumenta, o que a torna mais parecida com uma artéria.
Isso evitaria um dos principais problemas de enxerto de veias, como os da ponte de safena. Nessa técnica, um pedaço da veia safena, localizada na perna, é enxertado em artérias obstruídas. Por ser mais estreita que as artérias, a ponte entope com frequência.
Segundo Kuo, a terapia terá um "impacto imenso sobre todos os que passam por cirurgias de safena". Kuo afirmou que o procedimento é simples e não tornaria a ponte de safena mais cara nem mais complicada.
O tratamento poderia ajudar também portadores de doença vascular periférica (obstrução de artérias das pernas) e de aterosclerose (enrijecimento das artérias causado por placas de gordura).
Atualmente, um tratamento disponível para a doença vascular periférica emprega drogas similares ao tPA. Essas drogas, porém, são injetadas na corrente sanguínea e circulam pelo corpo inteiro, causando, muitas vezes, hemorragias internas graves.
No estudo de Kuo, os pesquisadores injetaram tPA humano em coelhos. Depois de 15 minutos, a solução foi retirada de suas veias, que foram enxertadas em artérias quase totalmente obstruídas.
Depois de seis dias de tratamento, os coágulos ocupavam entre 7% e 20% do diâmetro das artérias.
Os cientistas tentaram injetar tPA diretamente nas artérias bloqueadas, mas o gene não conseguia vencer a barreira formada pelos coágulos. A veia enxertada produz o gene em quantidade suficiente para vencer o "bloqueio".


Próximo Texto: Auto-exame de mama excessivo é prejudicial
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.