São Paulo, sexta-feira, 23 de abril de 2004

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BIOLOGIA

Geólogos utilizarão dados para decidir onde cavar

Algas unicelulares dão pistas para a busca de terrenos com petróleo

ALESSANDRO GRECO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Poseidon morreria de inveja se descobrisse que quem realmente manda nos oceanos, segundo a ciência, são algas unicelulares. As chamadas diatomáceas são também responsáveis por quase metade da fotossíntese nos mares. Mas nem sempre foi assim: seu reinado começou há somente 90 milhões de anos, revela estudo hoje na revista científica americana "Science" (www.sciencemag.org) -o que pode facilitar a exploração da riqueza fóssil daqueles tempos, o petróleo.
Não é surpresa que, em se tratando de ajudar na procura de novos campos de petróleo, entre os autores estejam dois pesquisadores do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo M. de Mello (Cenpes), da Petrobras.

Novos métodos
Procurado para falar do trabalho, o autor e gerente de geoquímica da empresa, Luiz Trindade, não estava disponível para entrevistas. Foi tentado também contato com a autora brasileira Silvana Barbanti, igualmente do Cenpes, mas ela não foi encontrada.
A pesquisa usou um método diferente dos utilizados até hoje para datar diatomáceas. "Mostramos, pela primeira vez, que se pode fazer essa datação com precisão", diz o professor do departamento de ciências geológicas e ambientais da Universidade de Stanford J. Michael Modowan.

Fósseis moleculares
A idéia dos autores foi usar fósseis moleculares, ou seja, moléculas orgânicas que conseguem sobreviver durante milhões de anos. As duas outras formas de datação disponíveis tinham problemas de confiabilidade.
A primeira, análise dos fósseis das diatomáceas, sofre com a falta de espécimes para exame e a má conservação de seus vestígios. A segunda, datação mediante seqüências de DNA do ribossomo (fábrica de proteínas na célula), precisa ser calibrada pelos fósseis, que são porém incompletos.
Saber quando as diatomáceas mais antigas se tornaram rainhas dos mares vai ajudar os geólogos na busca de novos campos de petróleo -embora não se saiba por que elas chegaram a tanto. "Elas desenvolveram um tipo de composto, que foi exatamente o que procuramos para fazer nosso estudo. Talvez essa química seja a responsável por sua ascensão nos mares.", diz Modowan.
Uma hipótese levantada no artigo é que a ascensão das diatomáceas ocorreu devido à reorganização dos nutrientes no oceano, que, por sua vez, foi causada pela movimentação das placas tectônicas da Terra.

Marcador preciso
O estudo, que analisou mais de 120 espécies marinhas de diatomáceas, descobriu que somente uma das algas mais antigas tem o tal composto químico em seu corpo, o que faz delas um marcador preciso do tempo geológico de uma rocha. "Saber a época de uma rocha, para os geólogos, torna certas áreas mais interessantes do que outras para procurar petróleo", afirma Modowan.


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