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"Elo perdido" explica evolução das focas
Fóssil de 23 milhões de anos achado no Canadá liga animal a morsas, leões-marinhos e outras espécies da mesma ordem
Mamífero era mais bem
adaptado à locomoção em
terra, mas tinha membrana
separando os dedos, com
pata servindo de nadadeira
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Um fóssil achado no Canadá
é um bicho tão original que merece ser descrito pelo mais velho e surrado clichê da evolução biológica: trata-se do "elo
perdido" entre mamíferos
aquáticos como focas e morsas
e seus ancestrais terrestres.
Os mamíferos conhecidos
como pinípedes têm nadadeiras que facilitam a natação, mas
tornam sua movimentação em
terra pouco eficiente. O fóssil
de 23 milhões de anos batizado
Puijila darwini tem membros
robustos para andar, mas seus
ossos indicam que haveria
membranas entre os dedos semelhantes às de uma ave aquática, um tipo de "pé-de-pato".
Antes dessa descoberta, o pinípede considerado o mais antigo era o Enaliarctos, achado
na costa noroeste da América
do Norte, e dotado de nadadeiras. O Puijila está descrito em
estudo na edição de hoje da revista "Nature", liderado por
Natalia Rybczynski, do Museu
Canadense da Natureza.
O nome Puijila darwini homenageia o naturalista Charles
Darwin, pai da teoria da evolução, que previu a existência de
uma forma de transição entre
esses animais. Puijila é a palavra para "pequeno mamífero
marinho" na língua dos esquimós da região do achado.
Os primeiros vestígios do
mamífero foram achados em
2007 num lago criado na cratera do impacto de um meteoro.
Uma expedição em 2008 achou
mais pedaços. Ao todo, 65% do
esqueleto foi desvendado.
A região do Ártico é considerada a área de origem dos pinípedes. Há 23 milhões de anos o
clima era ameno como o de
uma região temperada. Vivendo primeiro em lagos de água
doce, os animais foram se
adaptando à vida aquática a
ponto de passar a caçar no mar.
O achado dá uma visão de como seriam os pinípedes antes
de passarem a ter nadadeiras,
segundo Rybczynski, que chefiou a expedição de campo.
O fóssil retém uma longa
cauda e membros com proporções mais semelhantes às de
carnívoros terrestres do que
dos pinípedes atuais. Mas alguns ossos indicam que ele levava uma vida semiaquática.
A passagem da terra para o
mar aconteceu diversas vezes
entre os mamíferos, indicam as
lontras, o peixe-boi-marinho,
as baleias e os golfinhos.
"Essa transição é caracterizada por inovações associadas
com muitos aspectos da vida,
incluindo locomoção, alimentação e reprodução. O registro
fóssil tem documentado os primeiros estágios de algumas
dessas transformações, com
mais sucesso no caso das baleias a partir de artiodáctilos
terrestres", escreveram os autores. Artiodáctilos são mamíferos ungulados (com casco) e
com número par de dedos nas
patas, como o boi e o camelo.
Em 2007, o "elo perdido" das
baleias foi identificado como
um pequeno artiodáctilo fóssil,
o Indohyus, achado na Índia.
Mas só agora, com a descoberta
do fóssil canadense, é que a primitiva evolução dos pinípedes
passa a ser melhor conhecida.
O sítio paleontológico no Canadá tem ainda peixes, aves e
outros fósseis, como coelhos,
rinocerontes e os ancestrais
das modernas girafas e veados.
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