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BIODIVERSIDADE
Relação publicada ontem pelo governo tem o dobro de espécies da sua edição anterior; oito estão extintas
Brasil revê sua lista de animais ameaçados
PATRÍCIA ZIMMERMANN
DA FOLHA ONLINE, EM BRASÍLIA
CLAUDIO ANGELO
EDITOR-ASSISTENTE DE CIÊNCIA
Treze anos depois, o Brasil ganhou uma nova lista de fauna
ameaçada de extinção. A chamada "lista vermelha" foi publicada
ontem pelo Ministério do Meio
Ambiente e tem 395 espécies, oito
delas extintas. A cifra é quase o
dobro da versão anterior, de 1989,
com 219 espécies.
Além da publicação da lista, a
ministra Marina Silva anunciou a
destinação de R$ 6 milhões para
programas de manejo que contribuam para recuperar espécies.
Projetos desse tipo ajudaram, por
exemplo, a melhorar a situação de
animais como o mico-leão-dourado, que mudou de categoria de
1989 para cá: de "criticamente em
perigo", agora é "considerado
apenas em perigo" pelos critérios
usados na listagem.
"Esse é um documento muito
forte, que atesta a falta de cuidado
com a fauna brasileira", disse Marina Silva. "Com essa lista, estaremos adotando políticas para recuperar as espécies que estão em
processo de extinção", afirmou.
O ministério quer, agora, atualizar a relação dos animais em perigo a cada cinco anos. Também foi
criado um grupo de trabalho para
elaborar uma nova metodologia
de listagem, que leve em conta fatores como megadiversidade e a
extensão territorial do país.
Hoje, os critérios utilizados para
definir espécie ameaçada (veja
quadro à dir.) são os da IUCN
(União Internacional para a Conservação da Natureza). Segundo
Lídio Coradin, gerente de Recursos Genéticos do MMA, eles nem
sempre se aplicam ao Brasil.
"Existem áreas muito remotas
no país. Dizer que uma espécie está extinta porque não é observada
há dez anos, por exemplo, não
funciona no Brasil", afirmou.
Mais conhecimento
O crescimento no número de
espécies ameaçadas pode ser encarado como um índice da piora
geral da situação ambiental do
país. Mas, mais certamente, o que
o aumento revela é que ainda se
sabe muito pouco sobre a biodiversidade brasileira.
"É um erro dizer que a situação
biológica piorou só com base na
lista", disse à Folha o biólogo
Adriano Paglia, da Conservation
International (CI), organização
que ajudou a elaborar a lista, assim como a Fundação Biodiversitas, a Sociedade Brasileira de Zoologia e a Terra Brasilis. "O que
houve foi um aumento do conhecimento científico."
A revisão da lista vermelha do
Ibama (Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis), por exemplo, incluiu pela primeira vez peixes e invertebrados aquáticos: seriam 166 espécies de peixe e 89 de
invertebrados. O ministério, no
entanto, decidiu publicar agora só
a lista de espécies terrestres.
O desmembramento da lista,
conforme adiantou a Folha na última terça-feira, foi motivado pela
preocupação do governo com o
"inchaço" da relação -se incluídos peixes e invertebrados marinhos, o número de ameaçados
passaria de 620- e com o fato de
que espécies de interesse comercial estivessem incluídas.
Segundo o secretário de Biodiversidade e Florestas do ministério, João Paulo Ribeiro Capobianco, como a pesca é liberada no
Brasil, o atraso "foi um cuidado
legal devido às consequências da
publicação da lista". A captura de
um animal ameaçado de extinção
é crime inafiançável.
O secretário promete a divulgação da lista de peixes e crustáceos
em até três meses, após a revisão
de critérios para exploração.
Aves em perigo
A nova relação mostra que, entre os vertebrados terrestres, a categoria mais ameaçada é a das
aves. São 160 espécies ameaçadas,
contra 69 mamíferos, 20 répteis,
16 anfíbios e 130 invertebrados
terrestres (incluindo insetos). Segundo Marina Silva, o tráfico de
animais, o desmatamento, o uso
predatório de recursos naturais e
a poluição são os responsáveis
por essa situação.
Segundo Paglia, cerca de 8% dos
vertebrados terrestres estão
ameaçados. "O número não é tão
grande, porque a Amazônia e o
Pantanal mantêm espécies ameaçadas do cerrado e da mata atlântica", afirmou o biólogo.
A mata atlântica, que já era motivo de preocupação na lista de
1989, viu sua biodiversidade diminuir ainda mais: 70% das espécies
da nova relação ocorrem nessa
floresta. E, das 266 espécies de
vertebrado terrestre, cem só existem ali. "É quase uma catástrofe
ambiental", disse Paglia.
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