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São Paulo, sexta-feira, 23 de maio de 2003

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BIODIVERSIDADE

Relação publicada ontem pelo governo tem o dobro de espécies da sua edição anterior; oito estão extintas

Brasil revê sua lista de animais ameaçados

PATRÍCIA ZIMMERMANN
DA FOLHA ONLINE, EM BRASÍLIA
CLAUDIO ANGELO
EDITOR-ASSISTENTE DE CIÊNCIA

Treze anos depois, o Brasil ganhou uma nova lista de fauna ameaçada de extinção. A chamada "lista vermelha" foi publicada ontem pelo Ministério do Meio Ambiente e tem 395 espécies, oito delas extintas. A cifra é quase o dobro da versão anterior, de 1989, com 219 espécies.
Além da publicação da lista, a ministra Marina Silva anunciou a destinação de R$ 6 milhões para programas de manejo que contribuam para recuperar espécies. Projetos desse tipo ajudaram, por exemplo, a melhorar a situação de animais como o mico-leão-dourado, que mudou de categoria de 1989 para cá: de "criticamente em perigo", agora é "considerado apenas em perigo" pelos critérios usados na listagem.
"Esse é um documento muito forte, que atesta a falta de cuidado com a fauna brasileira", disse Marina Silva. "Com essa lista, estaremos adotando políticas para recuperar as espécies que estão em processo de extinção", afirmou.
O ministério quer, agora, atualizar a relação dos animais em perigo a cada cinco anos. Também foi criado um grupo de trabalho para elaborar uma nova metodologia de listagem, que leve em conta fatores como megadiversidade e a extensão territorial do país.
Hoje, os critérios utilizados para definir espécie ameaçada (veja quadro à dir.) são os da IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza). Segundo Lídio Coradin, gerente de Recursos Genéticos do MMA, eles nem sempre se aplicam ao Brasil.
"Existem áreas muito remotas no país. Dizer que uma espécie está extinta porque não é observada há dez anos, por exemplo, não funciona no Brasil", afirmou.

Mais conhecimento
O crescimento no número de espécies ameaçadas pode ser encarado como um índice da piora geral da situação ambiental do país. Mas, mais certamente, o que o aumento revela é que ainda se sabe muito pouco sobre a biodiversidade brasileira.
"É um erro dizer que a situação biológica piorou só com base na lista", disse à Folha o biólogo Adriano Paglia, da Conservation International (CI), organização que ajudou a elaborar a lista, assim como a Fundação Biodiversitas, a Sociedade Brasileira de Zoologia e a Terra Brasilis. "O que houve foi um aumento do conhecimento científico."
A revisão da lista vermelha do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), por exemplo, incluiu pela primeira vez peixes e invertebrados aquáticos: seriam 166 espécies de peixe e 89 de invertebrados. O ministério, no entanto, decidiu publicar agora só a lista de espécies terrestres.
O desmembramento da lista, conforme adiantou a Folha na última terça-feira, foi motivado pela preocupação do governo com o "inchaço" da relação -se incluídos peixes e invertebrados marinhos, o número de ameaçados passaria de 620- e com o fato de que espécies de interesse comercial estivessem incluídas.
Segundo o secretário de Biodiversidade e Florestas do ministério, João Paulo Ribeiro Capobianco, como a pesca é liberada no Brasil, o atraso "foi um cuidado legal devido às consequências da publicação da lista". A captura de um animal ameaçado de extinção é crime inafiançável.
O secretário promete a divulgação da lista de peixes e crustáceos em até três meses, após a revisão de critérios para exploração.

Aves em perigo
A nova relação mostra que, entre os vertebrados terrestres, a categoria mais ameaçada é a das aves. São 160 espécies ameaçadas, contra 69 mamíferos, 20 répteis, 16 anfíbios e 130 invertebrados terrestres (incluindo insetos). Segundo Marina Silva, o tráfico de animais, o desmatamento, o uso predatório de recursos naturais e a poluição são os responsáveis por essa situação.
Segundo Paglia, cerca de 8% dos vertebrados terrestres estão ameaçados. "O número não é tão grande, porque a Amazônia e o Pantanal mantêm espécies ameaçadas do cerrado e da mata atlântica", afirmou o biólogo.
A mata atlântica, que já era motivo de preocupação na lista de 1989, viu sua biodiversidade diminuir ainda mais: 70% das espécies da nova relação ocorrem nessa floresta. E, das 266 espécies de vertebrado terrestre, cem só existem ali. "É quase uma catástrofe ambiental", disse Paglia.


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