|
Índice
Jordânia abriga "despensa" de 11 mil anos
Depósito para alimentos ajudou o homem a abandonar a caça e a coleta para praticar agricultura e pecuária, diz estudo
Ao lado do mar Morto, Dhra", local estudado, é uma das áreas mais antigas da Terra onde o homem viveu de forma sedentária
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
A descoberta e a análise de
restos fossilizados de cevada no
chão de antigas estruturas circulares confirmaram que um
sítio arqueológico na Jordânia
inclui as mais antigas "despensas" da humanidade.
Estes depósitos de comida de
11 mil anos atrás foram essenciais para o homem deixar o estágio de caçador-coletor -dependendo da caça, pesca e coleta de vegetais e frutas- e desenvolver a agricultura e a pecuária. O excedente de comida
criado pela "revolução agrícola" permitiu o surgimento das
primeiras civilizações.
Mas a datação desses silos
pré-históricos do sítio de Dhra",
perto do mar Morto, indica que
o uso intensivo de variedades
selvagens de gramíneas aconteceu um milênio antes da domesticação de cereais e o aparecimento e difusão de comunidades sedentárias.
A tecnologia para o armazenamento e a conservação de comida incorporada nos silos foi
uma das mais revolucionárias
da Pré-História, segundo o trabalho dos pesquisadores Ian
Kuijt, da Universidade de Notre Dame, Indiana (EUA), e Bill
Finlayson, do Conselho para
Pesquisa Britânica no Levante,
de Amã, Jordânia.
Vida sedentária
O armazenamento de comida "contribuiu para a domesticação de plantas, estilos de vida
cada vez mais sedentários e novas organizações sociais", escreveram Kuijt e Finlayson em
artigo na edição de hoje da revista cientifica "PNAS".
O sítio de Dhra" tem entre
11,5 mil e 10,5 mil anos de idade.
É um dos mais antigos locais do
planeta onde o homem viveu
em comunidades sedentárias,
no caso entre 40 e 50 pessoas.
Até agora já foram achadas
em Dhra" dez estruturas ovais
que eram usadas como residência e para preparação de alimentos. As pesquisas revelaram pelo menos quatro silos,
que deveriam ser usados comunitariamente para a preservação de grãos.
E a área promete mais achados. Os pesquisadores só escavaram cerca de 3% dos 6.500
metros quadrados do local.
Um silo típico -mas não o
mais antigo- é a estrutura de
número quatro. Com três metros de diâmetro, ele foi usado
em dois momentos distintos.
As paredes são de barro e pedra e o teto, cujos restos desabaram sobre a estrutura, era de
taipa. O aspecto mais importante, e que primeiro deu a pista sobre a utilização como silo,
é a existência de pedras com
curvas no topo feitas para suportar vigas de madeira.
Com isso, os habitantes da vila pré-histórica podiam criar
um chão suspenso com circulação de ar embaixo, reduzindo a
perda tanto por umidade quanto pelos saques por ratos.
Tecnologia de ponta
Os autores lembram que em
um período anterior, entre 15
mil e 12,8 mil anos atrás, já há
indicação de um uso bem variados de plantas e animais pelas
populações da região, "mas,
surpreendentemente, existe
pouca evidência direta de armazenamento de comida".
Mas a construção das despensas, e das próprias residências, indica que se está começando a ter um excedente de
comida que justifica o começo
de uma vida sedentária por parte dos grupos humanos.
O uso dos silos próximos ao
mar Morto produziu o "contexto tecnológico" que permitiu o
posterior desenvolvimento de
plantas domesticadas de uma
economia agropastoril, dizem
Kuijt e Finlayson.
Índice
|