São Paulo, terça-feira, 23 de junho de 2009

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Jordânia abriga "despensa" de 11 mil anos

Depósito para alimentos ajudou o homem a abandonar a caça e a coleta para praticar agricultura e pecuária, diz estudo

Ao lado do mar Morto, Dhra", local estudado, é uma das áreas mais antigas da Terra onde o homem viveu de forma sedentária

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

A descoberta e a análise de restos fossilizados de cevada no chão de antigas estruturas circulares confirmaram que um sítio arqueológico na Jordânia inclui as mais antigas "despensas" da humanidade.
Estes depósitos de comida de 11 mil anos atrás foram essenciais para o homem deixar o estágio de caçador-coletor -dependendo da caça, pesca e coleta de vegetais e frutas- e desenvolver a agricultura e a pecuária. O excedente de comida criado pela "revolução agrícola" permitiu o surgimento das primeiras civilizações.
Mas a datação desses silos pré-históricos do sítio de Dhra", perto do mar Morto, indica que o uso intensivo de variedades selvagens de gramíneas aconteceu um milênio antes da domesticação de cereais e o aparecimento e difusão de comunidades sedentárias.
A tecnologia para o armazenamento e a conservação de comida incorporada nos silos foi uma das mais revolucionárias da Pré-História, segundo o trabalho dos pesquisadores Ian Kuijt, da Universidade de Notre Dame, Indiana (EUA), e Bill Finlayson, do Conselho para Pesquisa Britânica no Levante, de Amã, Jordânia.

Vida sedentária
O armazenamento de comida "contribuiu para a domesticação de plantas, estilos de vida cada vez mais sedentários e novas organizações sociais", escreveram Kuijt e Finlayson em artigo na edição de hoje da revista cientifica "PNAS".
O sítio de Dhra" tem entre 11,5 mil e 10,5 mil anos de idade. É um dos mais antigos locais do planeta onde o homem viveu em comunidades sedentárias, no caso entre 40 e 50 pessoas.
Até agora já foram achadas em Dhra" dez estruturas ovais que eram usadas como residência e para preparação de alimentos. As pesquisas revelaram pelo menos quatro silos, que deveriam ser usados comunitariamente para a preservação de grãos.
E a área promete mais achados. Os pesquisadores só escavaram cerca de 3% dos 6.500 metros quadrados do local.
Um silo típico -mas não o mais antigo- é a estrutura de número quatro. Com três metros de diâmetro, ele foi usado em dois momentos distintos.
As paredes são de barro e pedra e o teto, cujos restos desabaram sobre a estrutura, era de taipa. O aspecto mais importante, e que primeiro deu a pista sobre a utilização como silo, é a existência de pedras com curvas no topo feitas para suportar vigas de madeira.
Com isso, os habitantes da vila pré-histórica podiam criar um chão suspenso com circulação de ar embaixo, reduzindo a perda tanto por umidade quanto pelos saques por ratos.

Tecnologia de ponta
Os autores lembram que em um período anterior, entre 15 mil e 12,8 mil anos atrás, já há indicação de um uso bem variados de plantas e animais pelas populações da região, "mas, surpreendentemente, existe pouca evidência direta de armazenamento de comida".
Mas a construção das despensas, e das próprias residências, indica que se está começando a ter um excedente de comida que justifica o começo de uma vida sedentária por parte dos grupos humanos.
O uso dos silos próximos ao mar Morto produziu o "contexto tecnológico" que permitiu o posterior desenvolvimento de plantas domesticadas de uma economia agropastoril, dizem Kuijt e Finlayson.


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