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Gorila ancestral recua origem humana
Fóssil etíope tem 10 milhões de anos e contraria evidências genéticas de separação recente entre homem e chimpanzé
Dentes da nova espécie
foram achados por grupo
da Etiópia e do Japão e são
nova prova da origem dos
grandes primatas na África
CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA
O lugar parecia pouco promissor para uma caça ao tesouro: uma colina formada por sedimentos soltos numa região
árida e de difícil acesso na Etiópia central. A formação Chorora, como é conhecida, tem poucos fósseis, a maioria em péssimo estado de preservação. Até
agora, não havia revelado nada
à ciência. Mas essa história mudou, graças à teimosia de um
grupo de pesquisadores etíopes
e japoneses. Eles encontraram
ali os restos fossilizados de uma
nova espécie de macaco, que
pode ajudar a esclarecer a própria origem dos humanos.
O animal, batizado Chororapithecus abyssinicus (ou macaco abissínio de Chorora) viveu
há cerca de 10 milhões de anos
e está sendo considerado o
mais velho parente dos gorilas.
Acontece que, até agora, vários paleontólogos e geneticistas consideravam que os gorilas só tivessem se separado dos
chimpanzés na evolução bem
depois disso. Como foi após essa separação que os chimpanzés se separaram dos hominídeos, a descoberta do gorila
pré-histórico etíope implica
que a família humana é mais
antiga do que se supunha -pode chegar a 9 milhões de anos.
"O material é muito esparso,
mas há uma possibilidade intrigante de que ele represente o
clado [família] dos gorilas depois que eles se separaram do
ancestral comum entre humanos e chimpanzés", explica o
antropólogo David Pilbeam, da
Universidade Harvard (EUA).
"Isso só poderia ser o caso se
o ancestral comum entre os
grandes macacos africanos e os
seres humanos tivesse mais de
10 milhões de anos, o que significaria que a divergência entre
humanos e chimpanzés aconteceu há mais de 8 milhões de
anos", continua o cientista.
O galho que faltava
O grupo liderado por Gen Suwa, da Universidade de Tóquio,
e Berhane Asfaw, do Rift Valley
Research Service, em Adis Abeba, encontrou os fósseis -um
conjunto de meros oito dentes- depois de andar cem quilômetros pela região de Chorora sem achar nada de especial.
"Era o nosso último dia de levantamentos de campo em fevereiro de 2006. Nosso assistente de campo, Kampiro, encontrou o primeiro dente. Ele o
apanhou e mostrou para mim, e
eu soube que aquilo era algo
novo -o primeiro grande primata fóssil da Etiópia", disse
Asfaw num comunicado.
A empolgação com o achado
se justifica: apesar de vários hominídeos fossilizados já terem
sido achados na África (inclusive na Etiópia), raríssimos são
fósseis de macacos. E é neles
que está a chave para entender
a seqüência evolutiva que deu
origem ao Homo sapiens.
A ausência de fósseis de ancestrais de gorilas e chimpanzés para comparar com os de
hominídeos tem feito os cientistas se fiarem em dados obtidos por DNA para datar a origem de cada grupo. O Chororapithecus é uma das primeiras
"balizas" para as datações de
DNA. E mostra que elas possivelmente estão erradas.
Suwa e seus colegas afirmam,
em estudo na revista "Nature"
de hoje, que estão diante de um
animal muito parecido com os
gorilas. Os dentes são adaptados a uma dieta de vegetais fibrosos, como a dos gorilas.
Analisando-os, os cientistas
concluíram que a linhagem dos
gorilas já estava bem estabelecida há 10 milhões de anos. Portanto, a divergência entre ela e
o ramo dos humanos e dos
chimpanzés seria mais antiga
do que o DNA indica.
A falta de fósseis de grandes
macacos na África também levou alguns cientistas a propor
que os ancestrais comuns de
gorilas, seres humanos e chimpanzés não evoluíram na África, mas sim foram imigrantes
da Eurásia. "O Chororapithecus
sugere, mais uma vez, que a
África é o local de origem tanto
dos humanos quanto dos grandes macacos modernos", afirmam Suwa e seus colegas.
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