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Concentração de CO2 tem aumento recorde
Aceleração vista nesta década é maior que a prevista
DA REDAÇÃO
Como se as recentes previsões do IPCC (o painel do clima
das Nações Unidas) sobre o
aquecimento da Terra não fossem pessimistas o suficiente,
um grupo de cientistas do Reino Unido afirmou ontem que
elas já estão defasadas: o aumento da concentração de gás
carbônico (CO2) na atmosfera
terrestre cresceu 35% desde o
ano 2000 -uma aceleração
sem precedentes.
Isso significa que, se a tendência for mantida, todos os
efeitos previstos da mudança
climática se farão sentir mais
cedo e de forma mais aguda.
Em estudo publicado na edição de hoje da revista da Academia Nacional de Ciências
dos EUA (www.pnas.org), o
grupo afirma que a taxa de
crescimento do CO2 atmosférico foi de 1,93 parte por milhão
(ppm) por ano entre 2000 e
2006. Nos anos 1990, essa taxa
era de 1,49 ppm ao ano.
Hoje, a concentração de gás
carbônico na atmosfera é de
381 partes por milhão, o que já
representa um aumento brutal
em relação aos níveis pré-industriais: em 1750, o nível de
CO2 no ar era 280 partes por
milhão. Nunca antes, nos últimos 650 mil anos, essa cifra havia sido ultrapassada.
O gás carbônico é o principal
responsável pelo efeito estufa,
nome dado à retenção do calor
irradiado pela Terra por uma
capa de gases na atmosfera. A
aceleração do efeito estufa por
atividades humanas, em espacial a queima de combustíveis
fósseis (carvão, petróleo e derivados) e o desmatamento, é a
principal causa das mudanças
climáticas que o planeta sofre.
O novo estudo indica que a
humanidade está acelerando
rumo a uma concentração de
CO2 considerada perigosa: a
partir de 450 ppm, dizem os
cientistas, será virtualmente
impossível limitar o aquecimento adicional do planeta a
2C até 2100, nível considerado mais seguro.
Causa tripla
A aceleração a partir de 2000
tem três causas principais.
Primeiro, as emissões cresceram de forma acelerada, especialmente no Terceiro Mundo
(leia-se China), que se desenvolve à custa do uso intensivo
de petróleo e carvão.
Depois, a chamada intensidade energética -ou total de
carbono emitido por dólar produzido no PIB- cresceu nos últimos anos. Ou seja esses países
estão se desenvolvendo de forma cada vez mais suja, usando o
combustível fóssil mais poluente (e barato), o carvão.
Por fim, os "ralos" naturais
de que a Terra dispõe para escoar o carbono produzido pela
humanidade, em especial os
oceanos, parecem estar esgotando sua capacidade.
"Nós não estamos no caminho em que pensávamos estar
em termos do controle do
aquecimento global", disse Corinne Le Quéré, da Universidade de East Anglia (Reino Unido), co-autora do estudo.
O grupo de Le Quéré analisou dados sobre o gás carbônico atmosférico obtidos a partir
de 1959, e os comparou com as
tendências atuais.
Eles descobriram que as projeções feitas no final dos anos
1990 subestimaram as emissões decorrentes do uso de
energia em até 17%.
Em meio a tanta notícia
ruim, o estudo traz um dado
positivo para o Brasil: as emissões decorrentes do desmatamento na América do Sul caíram de 900 milhões para 600 milhões de toneladas de carbono por ano. Uma queda que o
Brasil ameaça compensar aumentando, como tem feito, a fatia do carvão na sua matriz
energética.
(CLAUDIO ANGELO)
Com Reuters
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