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Biocombustível será bom para o clima, indica simulação
Receio de que álcool e biodiesel sejam tiro pela culatra é exagerado, afirma estudo na "Science"
RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL
O medo de que uma economia mundial baseada em biocombustíveis seja um tiro pela
culatra no combate ao aquecimento global não tem muito
fundamento, indica um novo
estudo. Simulando um futuro
em que os combustíveis fósseis
seriam substituídos, pesquisadores concluíram que o cenário
mais provável é um em que álcool e biodiesel possam mesmo
ajudar a evitar emissões de gases do efeito estufa.
O novo trabalho, publicado
pela revista "Science", indica
que a atual política para uso da
terra com biocombustíveis está
no caminho certo, mas alerta
que uma mudança poderia provocar, sim, efeitos indesejáveis.
Liderado por Jerry Melillo,
do Laboratório de Biologia Marinha de Woods Hole (EUA), o
trabalho mostra, primeiro, um
cenário pessimista. Efeitos "indiretos" da ampliação de produção de biocombustíveis seriam capazes de emitir até duas
vezes mais CO2 que o uso direto
de terras para plantar vegetais
necessários ao produto.
Isso ocorrerá se pastagens
desalojadas para a produção de
cana, por exemplo, restabelecerem-se em áreas de floresta,
provocando desmatamento. O
uso irrefreado de fertilizantes
nitrogenados também seria
nocivo por produzir óxido nitroso, um gás de efeito estufa.
A relação entre agricultura e
ambiente observada nos últimos dez anos, porém, aponta
para um caminho diferente.
Segundo os pesquisadores, a
tendência é que as políticas antidesmatamento atuais, mesmo longe de ser perfeitas, consigam dar conta de frear esse
problema. Biocombustíveis,
nesse caso, têm vantagem inquestionável sobre petróleo,
pois plantas absorvem CO2.
"Se as coisas continuarem
como são hoje, vão gerar o que
está no segundo caso, mais otimista", diz Angelo Gurgel, economista da USP que participou
do estudo. "Mas, se a pressão
por bioenergia e alimentos for
grande a ponto de os governos
flexibilizarem a proteção ambiental, o cenário muda."
O modelo matemático da simulação de Gurgel e colegas é
possivelmente o mais completo já usado para ver o impacto
dos biocombustíveis na mudança do uso de terra. Seu resultado otimista, com alguma
surpresa, contrariou projeções
sombrias obtidas por outros.
Esse tipo de simulação vinha
sendo criticado por cientistas
como José Goldemberg, também da USP, pioneiro do planejamento econômico para o
álcool. "Um modelo geral para
o mundo não se aplica em situações particulares, como a do
Brasil", diz o cientista. Um dos
problemas, explica, é que o álcool de cana brasileiro produz
muito mais energia por área
cultivada do que o álcool de milho americano, por exemplo.
O trabalho de Gurgel, porém,
evita isso ao se esquivar do debate sobre quais vegetais são
melhores. "No longo prazo, o
mercado vai selecionar naturalmente aqueles que tiverem
potencial", afirma.
O medo de que a valorização
de terras viáveis para essas
plantas as façam "empurrar" o
gado para cima da floresta, diz,
também não parece ter muita
sustentação. Segundo Gurgel,
porém, será preciso reforçar no
futuro os mecanismos que, por
enquanto, impedem isso.
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