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ANÁLISE
Cérebro humano conspira contra os debates ponderados
HÉLIO SCHWARTSMAN
ARTICULISTA DA FOLHA
O neurocientista português António Damásio mostrou que é impossível até
mesmo pensar sem mobilizar
as emoções, mas isso não é
desculpa para não tentarmos
travar debates racionais, especialmente quando discutimos políticas públicas.
O chamado "controle "top-down'", no qual o neocórtex
-o, vá lá, cérebro racional-
assume o comando, sobrepondo-se a nossas inclinações e apetites naturais, é um
evento relativamente raro,
mas não desconhecido.
De um modo geral, ocorre
exatamente o contrário. Nosso órgão executivo central é
que age segundo um sistema
de preferências internas
preestabelecidas, com base
em emoções e intuições morais esculpidas por condicionamentos culturais.
A feliz imagem de Robert
Wright resume bem a situação: "O cérebro é como um
bom advogado: dado um
conjunto de interesses a defender, ele se põe a convencer o mundo de sua correção
lógica e moral, independentemente de ter qualquer uma
das duas. Como um advogado, o cérebro humano quer
vitória, não verdade".
Esse sistema está tão
enraizado dentro de nós que,
de acordo com o psicólogo
Jonathan Haidt, depois que
um juízo intuitivo foi proferido e reforçado por uma racionalização, existem poucas
circunstâncias sob as quais
esse juízo pode ser alterado.
A primeira e a segunda
têm mais a ver com interações sociais do que com pensamento propriamente dito.
Elas são o efeito maria vai
com as outras e a obediência
a uma autoridade.
Haidt, entretanto, também
traz uma sombra de esperança para os amantes da razão.
Para ele, quando a intuição
moral inicial é fraca ou inexistente e a capacidade analítica do sujeito, forte, também é possível reverter o juízo moldado pela intuição.
O problema aqui é que tendemos a ser objetivos nos assuntos que não nos interessam. Discussões sobre temas
mais candentes, que despertam paixões e envolvem
questões morais, estão sempre a um passo de converter-se em polêmicas, quando
não batalhas campais.
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