São Paulo, domingo, 23 de novembro de 1997.



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PERISCÓPIO
Cientistas registram um rápido avanço evolucionário

JOSÉ REIS
especial para a Folha

Conta Virginia Morell em um artigo publicado na revista norte-americana "Science" (275, 1880) como o biólogo evolucionário David Reznick, da Universidade da Califórnia, em Riverside, nos Estados Unidos, salvou de morte certa uma pequena população dos chamados "guppies" -os peixinhos das Antilhas, de vivo colorido, de nome científico Lebistes reticulatus.
Esses peixes estavam numa lagoa de cascata cheia de predadores. Reznick e seus colaboradores se encarregaram de transferir os "guppies" para outra lagoa semelhante localizada rio acima. Nessa lagoa, porém, havia apenas uma espécie predadora.
Os "guppies" se adaptaram muito bem à nova situação. Segundo o artigo de Morell, eles revelaram maior crescimento, vivendo por mais tempo e produzindo descendência mais abundante.
Agora o mesmo cientista retoma essa experiência de 11 anos e procura, metodicamente, determinar o tempo que durou a adaptação evolucionária além de outras coisas.
A nova experiência é publicada na mesma revista (pág. 1.934) e mostra que os lebistes se adaptaram em quatro anos, prazo de mudança de 10 mil a 10 milhões de anos mais rápido do que o determinado pelo registro fóssil.
Embora o avanço na adaptação seja um resultado já conseguido várias vezes em laboratório, esta é a primeira ou uma das primeiras vezes que ele é observado em liberdade, ao ar livre.
Isso contraria a velha noção de que os avanços em adaptação por seleção natural são em geral muito lentos.
Reznick, conforme relata um cientista, retirou a experiência do laboratório e a colocou em condições naturais, ao ar livre.
Reznick por sua vez afirma que seu trabalho abre pistas e padrões evolucionários mais amplos como a estase (longos períodos sem mudança) intercalada por rápidos surtos de mudança. Nem todos concordam com ele, entretanto.
No novo estudo, Reznick e colaboradores começam com pesquisas feitas em 1990, que revelam que os "guppies" evoluem em vários aspectos como resposta aos predadores. Há exemplos naturais disso. De posse desses dados, os pesquisadores determinaram o prazo, já citado, de quatro anos para o avanço médio do processo de adaptação.



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