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Indústria poluidora banca campanhas
Empresas que produzem grande quantidade de gases-estufa doaram R$ 60,8 milhões para políticos na eleição de 2006
Principais contribuições são
da área do aço e de fábricas
de papel e celulose; lobby é
discreto porque país já ajuda
poluidores, diz especialista
Rich Press - 04.set.2007/BloombergNews
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Operador trabalha em siderúrgica na capital do Espírito Santo
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
MARCELO SOARES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Um grupo de 38 empresas,
pertencentes a áreas da indústria que emitem grande quantidade de gases-estufa, contribuíram R$ 60,8 milhões para
campanhas políticas nas eleições de 2006 no Brasil.
Os doadores pertencem a 12
associações nacionais representando indústrias de grande
intensidade de carbono (ou seja, que produzem grande quantidade de gases do aquecimento
global), como agronegócio,
energia, carne, papel e celulose,
cimento, mineração, óleos vegetais e siderurgia.
Em parte porque não existem regulamentações para o
emprego de lobby no Brasil,
não se pode estimar se essas
contribuições de campanha estão ligadas à legislação sobre a
mudança climática. Mas elas
são capazes de abrir portas. O
financiamento vindo das indústrias intensivas em carbono
ajudou a eleger metade da comissão da Câmara dos Deputados que está considerando mudanças no Código Florestal.
Nesse caso, após intensa disputa, os deputados ruralistas
conseguiram eleger Moacir Micheletto (PMDB-PR) como
presidente da comissão. Sua
proposta é deixar a legislação
ambiental a cargo de cada Estado. Entre os financiadores de
Micheletto estão a Bunge Alimentos (com contribuição de
R$ 70 mil) e a produtora de carne Marfrig (R$ 30 mil).
A comissão conjunta de mudança climática, criada em
março deste ano para discutir
leis sobre o tema, tem menos
membros financiados por indústrias de grande intensidade
de carbono. Apenas 11 de seus
44 membros receberam doações desses setores da economia. Ao todo, 25 dos 27 partidos
políticos do país foram agraciados com essas contribuições
em 2006. A maior concentração foi para o PSDB e o Democratas (então PFL), que respondem por 38% das doações
totais. Junto com o PMDB, esses dois partidos de oposição
perfazem 54% do montante.
Dos 719 candidatos que receberam dinheiro dessas empresas, mais da metade (51,3%) é
composta por políticos dos Estados, como governadores e deputados estaduais. Parlamentares federais correspondem a
48% da soma. Mas o presidente
Lula também está entre os que
receberam doações.
Mais de um terço do dinheiro
(37%) foi contribuído pela indústria do aço, encabeçada pela
Gerdau, com quase R$ 11 milhões. Mais de um quarto (26%)
veio de membros da indústria
de papel e celulose, em especial
da Aracruz. Já a Bunge, que está fazendo lobby intenso em nível internacional pela aprovação de leis mais tímidas sobre
mudança climática, seria a sexta maior doadora se tivesse repartido suas contribuições entre suas duas divisões, a de alimentos e a de fertilizantes.
Ambiente favorável
Em entrevistas, funcionários
do governo e especialistas dizem ter dificuldade de citar
empresas que tenham um
lobby ativo em relação à mudança climática no Brasil. Um
ex-assessor do governo para assuntos energéticos, que pediu
para não ser identificado, afirma que o lobby nessa área no
Brasil é pouco visível porque
tudo já favorece as indústrias
poluidoras no país.
"Em Copenhague, vamos ver
a indústria americana do carvão, por exemplo, distribuindo
abertamente folhetos em favor
de seus interesses. As indústrias brasileiras não farão o
mesmo porque não precisam",
declarou o especialista.
Apesar disso, associações da
indústria estão se posicionando sobre as negociações internacionais do clima, algumas
pressionando contra metas de
redução de emissões que afetem setores específicos da economia brasileira.
Uma das principais é a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Para a entidade, levar metas a Copenhague atrapalharia o crescimento econômico e seria só uma forma de
"mostrar ativismo". Os industriais reclamam que as necessidades do setor não estão sendo
ouvidas o suficiente no debate
sobre as mudanças climáticas.
"Não houve discussão, principalmente com o setor privado, para o Brasil se envolver
com uma meta mais geral", diz
o diretor executivo da CNI, José Augusto Fernandes. A Fiesp
(Federação das Indústrias do
Estado de São Paulo) diz temer
que a adoção de metas sem contrapartida dos países ricos trave a competitividade do Brasil.
A reportagem faz parte da série "O Lobby Global
da Mudança Climática", produzida pelo ICIJ
(Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos). Leia mais em www.icij.org
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