São Paulo, sábado, 24 de janeiro de 2004

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ESPAÇO

Europeus comemoram resultado; americanos tentam consertar jipe e pousar outro no lado oposto do planeta vermelho

Mars Express aponta gelo exposto no pólo

France Presse/ESA
Imagem 3D da Mars Express mostra caldeira vulcânica em Marte


SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Marte anda agitado como nunca. Enquanto a última sonda de uma flotilha se prepara para pousar no planeta vermelho amanhã, sua irmã gêmea passa dificuldades na superfície. E um módulo orbital europeu acaba de obter sinais inequívocos e diretos de água no pólo Sul marciano.
A boa notícia vem da Europa, que já amargou dias de tristeza por conta da perda de seu módulo de pouso marciano Beagle-2, durante o procedimento de descida à superfície, no final do ano passado. Sua nave-mãe, Mars Express, está na órbita designada para iniciar sua missão científica e já enviou imagens tridimensionais do solo do planeta. Outros instrumentos também ofereceram dados inéditos -como a detecção de água congelada, diretamente em contato com a superfície, no pólo Sul marciano.
A descoberta não representa uma grande novidade. A sonda americana Mars Odyssey, de 2001, já havia detectado sinais do que provavelmente eram grandes quantidades de gelo no pólo Sul. Mas o método era indireto -o instrumento de bordo só conseguia captar traços de hidrogênio, que os cientistas supunham estar ligado a oxigênio, formando água.
O espectrômetro Omega, instalado na européia Mars Express, vai mais adiante e detecta a assinatura da própria água, eliminando a hipótese de que o hidrogênio pudesse estar formando outros tipos de molécula no solo.
A ESA (Agência Espacial Européia) deu a notícia numa entrevista coletiva realizada em seu Centro de Operações Espaciais, em Darmstadt, Alemanha. Comemorada como um grande feito pelos cientistas europeus, foi recebida com reticência por americanos, que já consideravam o gelo como favas contadas após a Odyssey.
No JPL (Laboratório de Propulsão a Jato) da Nasa, os técnicos e engenheiros respiraram aliviados com a retomada de contato com o jipe Spirit, que está na cratera Gusev. Comemorado como grande sucesso desde o pouso, ele havia interrompido subitamente suas transmissões na quarta-feira, sem razão aparente.
Duas sessões de comunicações foram realizadas ontem, num tempo total de 30 minutos. As informações enviadas pelo jipe agora estão sendo analisadas pelos técnicos, que tentam descobrir como fazê-lo voltar a funcionar. Isso pode levar semanas.
Ao que parece, o computador de bordo está com problemas sérios. Desde a perda de contato, foram 60 as tentativas automáticas de reiniciar o sistema. Comparado a um paciente num hospital, o Spirit foi diagnosticado como em estado crítico por Pete Theisinger, gerente da missão.
Uma nova jornada como a do Spirit começa para outra equipe do JPL, responsável pelo acompanhamento do pouso do segundo jipe, Opportunity, que deve ocorrer a partir das 3h05 de amanhã (em Brasília). Ele descerá em Meridiani Planum, região oposta à de Gusev no globo marciano.


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