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Mutação genética produz madrugadores, diz estudo
Anomalia foi achada em famílias com hábito de dormir e acordar cedo demais
Os portadores da alteração
costumam ir para a cama
entre 17h e 19h; cientistas
criaram roedor transgênico
para testar tratamento
RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL
As pessoas que gostam de
acordar extremamente cedo e
antecipar a hora de dormir podem fazer isso por influência de
seu DNA, revela um estudo de
cientistas dos EUA. Ao estudar
famílias em que quase todas as
pessoas possuem a chamada
"síndrome da fase avançada do
sono", os pesquisadores identificaram uma mutação como a
causa do comportamento.
Os portadores de uma forma
anômala de um gene chamado
Per2, mostrou o estudo, têm o
costume de ir para a cama entre
17h e 19h e acordar entre 2h e
4h, mesmo em fins-de-semana
-e sem ajuda do despertador.
A fim de mostrar que o problema estava no DNA, cientistas da Universidade da Califórnia em San Francisco produziram roedores transgênicos
com a mesma mutação dos humanos madrugadores e realizaram um experimento. O papel
da alteração genética ficou claro quando compararam os animais alterados aos normais.
"Colocamos os dois grupos
em caixas com iluminação artificial, alternando períodos claros e escuros a cada 12 horas,
para simular o dia", explicou à
Folha Ying-Hui Fu, pesquisadora que liderou o teste. "Na
natureza, os camundongos são
animais noturnos, então os animais normais acordavam assim
que desligávamos a luz, começavam a andar na roda e ficavam ativos o tempo todo, até
que a luz se acendesse."
Os transgênicos, porém, iniciavam suas atividades de três a
quatro horas antes de a luz se
acender e iam dormir mais cedo também. "Foi exatamente
como acontece nos humanos
com a síndrome, que vão para a
cama entre 18h e 19h e se levantam às 3h ou 4h", disse Fu.
A cientista está agora testando várias drogas nos roedores
transgênicos. "Nossa meta final, claro, é encontrar uma forma de intervenção terapêutica
para regular o ritmo circadiano
humano, e esse estudo foi apenas um passo nessa direção."
Os resultados dos pesquisadores foram publicados na revista "Cell" no dia 11 de janeiro.
Boemia genética
O trabalho do grupo californiano é semelhante a outro que
um grupo da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo)
está desenvolvendo. Os pesquisadores brasileiros, porém, estudam uma outra alteração hereditária, no gene Per3, que
causa o problema inverso. Aparentemente, quem possui a
mutação contrai a síndrome da
fase atrasada do sono, uma espécie de boemia genética.
"O grupo da Califórnia fez
mais ou menos a mesma coisa
que nós estamos planejando
para um outro gene, o Per3",
diz Mário Pedrazzoli, coordenador dos trabalhos na Unifesp. Em colaboração com
cientistas britânicos, os brasileiros devem fazer experimentos com roedores portadores
dessa outra mutação.
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