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Desmate cresce e põe Planalto em alerta
Medições feitas pelo Inpe indicam aceleração em meses de chuva, o que é anormal; preocupado, Lula reúne ministros hoje
Reaquecimento dos preços de gado e soja impulsiona
corte da Amazônia, que
pode ter batido 7.000 km2 entre agosto e dezembro
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA
O Deter, sistema de detecção
de desmatamento em tempo
real do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) registrou a derrubada de 3.235
km2 de floresta na Amazônia
nos últimos cinco meses de
2007. Mas a área real devastada entre agosto e dezembro pode ter alcançado o dobro disso:
até 7.000 km2, segundo o Ministério do Meio Ambiente.
Os dados foram apresentados ontem em novo alerta de
desmatamento na Amazônia.
Preocupado, o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva convocou
uma reunião de emergência
com seis ministros hoje no Palácio do Planalto.
Segundo avaliação da equipe
da ministra Marina Silva (Meio
Ambiente), o retrato feito pelo
Deter indica uma tendência de
alta "inequívoca" no ritmo das
motosserras, cuja ação o governo vinha conseguindo conter
desde 2004. O reaquecimento
da devastação a partir de meados de 2007 já vinha sendo indicado por projeções do próprio Inpe e de um sistema independente, do Imazon, uma
ONG de pesquisas de Belém.
Para o Inpe, o ritmo mostrou-se especialmente acelerado em Mato Grosso -que havia
perdido a liderança no ranking
do desmatamento para o Pará- e em novembro e dezembro, meses em que tradicionalmente não há corte raso da floresta porque chove muito.
Segundo o Imazon, no entanto, a real explosão no final
do ano aconteceu no Pará: dados que serão publicados hoje
pela ONG mostram um crescimento de 300% em novembro
em relação a outubro. Para os
cinco meses (agosto a dezembro), a perda da floresta aumentou 74%. Para o Inpe, o aumento foi de apenas 18%.
Para Adalberto Veríssimo,
do Imazon, apesar das discrepâncias ambos os dados trazem
uma mensagem clara: "O aumento do desmatamento está
absolutamente confirmado e
bem caracterizado". Em meados de 2007, quando essa tendência começou a aparecer,
lembra Veríssimo, o governo
negou a subida. Agora, se as
projeções do MMA estiverem
certas, em cinco meses, três deles (outubro a dezembro) de
tradicional baixa na devastação, cortou-se 62% de tudo o
que se cortou no ano passado.
Boi e soja, é claro
Marina Silva apontou como
prováveis causas do aumento
do desmatamento a pressão
por aumento da produção de
soja e carne, commodities cujos
preços subiram. Os satélites indicam que o desmatamento se
concentrou em regiões produtoras de soja -o Nordeste mato-grossense, onde o governador do Estado, Blairo Maggi,
tem uma fazenda- e de gado
-o Sudeste do Pará.
"A pecuária e a soja são atividades típicas desses Estados; a
realidade econômica indica
que essas atividades pressionam o desmatamento", observou a ministra. "Esperamos
conseguir conter o desmatamento mesmo com o aumento
do preço das commodities."
Veríssimo, do Imazon, se diz
preocupado com o que acontecerá a partir de abril, quando a
Amazônia seca e o desmatamento esquenta para valer. "A
decisão de desmatar devido ao
aumento das commodities já
está tomada. Como o governo
vai reverter isso?"
Ele afirma que o Plano de
Prevenção e Controle do Desmatamento do governo ainda
não incorporou as restrições de
crédito aos produtores rurais
que desmatam ilegalmente.
Sem isso, avalia, será difícil evitar um desastre em 2008.
"Sem controle da produção,
não teremos solução para o
desmatamento", investiu Gilberto Câmara, diretor do Inpe,
ao defender o rastreamento da
origem da soja e do gado na
Amazônia. Este deve ser o tema
mais polêmico da reunião de
hoje no Planalto: como conciliar o aumento da produção
agropecuária e o avanço da
fronteira agrícola com a queda
do desmatamento.
A equipe do Meio Ambiente
sugere o uso mais intenso de
160 mil quilômetros quadrados
de áreas de florestas já derrubadas, áreas que seriam pouco
aproveitadas. O Ministério da
Agricultura estima em R$ 850 o
custo por hectare de recuperação de pastos degradados e avalia que o valor elevado incentiva o abate de árvores para a
abertura de novos pastos.
Decreto editado em dezembro por Lula pune quem comercializar ou mesmo transportar produtos de áreas desmatadas ilegalmente. "Vamos
responsabilizar toda a cadeia
produtiva", insistiu João Paulo
Capobianco, secretário-executivo do Meio Ambiente. O decreto começará a ser regulamentado nos próximos dias,
com a divulgação da lista dos 30
municípios que mais derrubam
floresta. Os campeões são São
Félix do Xingu e Cumaru do
Norte, ambos no Pará, seguidos
de Colniza (MT).
O aumento do preço das
commodities é apenas um dos
fatores de pressão sobre a floresta. Marina Silva atribui também à proximidade das eleições
municipais uma resistência
maior dos governantes locais à
ação dos fiscais do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis).
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