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Grupo inaugura instituto em Natal, de olho no Piauí
Instituto internacional de neurociências já tem resultado de primeiras pesquisas
Presidente do BC, Henrique
Meirelles, comparou ontem
a criação do centro científico
à da Embraer em cerimônia
no Rio Grande do Norte
EDUARDO GERAQUE
ENVIADO ESPECIAL A NATAL
Depois de três anos do lançamento oficial da idéia, o IINN
(Instituto Internacional de
Neurociência de Natal) é uma
realidade. O centro foi inaugurado ontem, na capital do Rio
Grande do Norte, pelo trio de
cientistas brasileiros que o conceberam enquanto faziam carreira nos EUA.
As obras do instituto, cujos
cinco prédios se dividem entre
Natal e o município vizinho de
Macaíba, só devem ficar prontas em 40 dias. Mas os pesquisadores já vislumbram uma segunda instituição do tipo, em
um dos Estados mais carentes
do Brasil: o Piauí.
"Estes anos de trabalho não
foram fáceis. Tivemos de criar
todo um mecanismo novo, que
não existia no Brasil", disse à
Folha o neurocientista Miguel
Nicolelis, da Universidade Duke, principal cérebro por trás
do novo centro do cérebro.
Ele se refere ao fato de que
instituições de pesquisa nos
moldes do IINN, que funcionam com dinheiro público e de
instituições filantrópicas -modelo comum na ciência americana-, não existiam por estas
bandas até ontem.
"Mas com certeza o segundo
centro de pesquisas, que será
no sul do Piauí, onde o Estado
mais precisa, sairá mais rápido", continuou. Ele não deu detalhes sobre a nova idéia.
Apesar de a construção do
complexo de ensino e pesquisa
ter levado um tempo maior do
que o previsto, as pesquisas feitas na cidade de Natal, sob
orientação do brasiliense Sidarta Ribeiro -pupilo de Nicolelis que trocou a Carolina do
Norte pelo Rio Grande do Norte para dirigir o IINN-, já estão
começando a aparecer.
No congresso científico que
será realizado até amanhã na
capital potiguar serão apresentados sete trabalhos já feitos totalmente na estrutura do novo
centro de pesquisa.
"Estão envolvidos nessas
pesquisas alunos de graduação,
de mestrado e de doutorado",
afirmou Ribeiro -já levemente
queimado de sol.
Para começar a funcionar, o
centro já conta com R$ 25 milhões. "Foram R$ 13 milhões do
poder público e o restante da
iniciativa privada. Nesse caso,
recebemos contribuições do
Brasil e do exterior", afirmou
Nicolelis, paulistano (e palmeirense doente) radicado nos
EUA há uma década e meia.
Novo nome
O IINN, que desde ontem foi
renomeado, e passou a se chamar IINN Edmond e Lily Safra,
recebeu a maior contribuição
filantrópica exatamente da
Fundação Safra. "É um privilégio imenso para mim colaborar
com esse laboratório que será
um dos líderes da pesquisa em
neurociência no mundo", disse
Safra, também presente a cerimônia em Natal.
Nessa empreitada de levar a
ciência para o nordeste do Brasil -além das pesquisas de ponta, também vão funcionar na
região projetos sociais e educacionais voltados para comunidades carentes- Nicolelis se
alinhou a figuras de peso do governo federal.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não compareceu pessoalmente, mas mandou uma
carta. "Este é um projeto que
colabora com a repatriação de
cérebros brasileiros", dizia um
dos trechos do documento, lido, de forma emocionada, pelo
próprio Nicolelis. O cientista
disse várias vezes logo após a
eleição de 2002 que a vitória de
Lula havia sido fundamental
para que se levasse adiante a
idéia do centro.
Embraer do cérebro
Já Henrique Meirelles, presidente do Conselho do IINN, esteve pessoalmente na capital
potiguar. Segundo o presidente
do BC, dentro desta "longa viagem" iniciada em 2004, a fase
da implementação, um dos
pontos-chaves do projeto, foi
superada com sucesso. "Estou
surpreso, positivamente, com o
que já foi executado", disse.
Para Meirelles, a implantação de um centro de neurociência em Natal, no futuro, poderá
ser comparada com a criação da
Embrapa e da Embraer.
"Este é um passo importante
tanto para a ciência como para
a economia."
Santos Dumont
O ideal de Nicolelis existe há
pelo menos quatro anos. Radicado na Carolina do Norte, o
pesquisador sempre disse que
tinha um sonho de poder voltar
a trabalhar mais no Brasil. Para
isso ele contou com jovens pesquisadores, que também estavam e ainda estão ligados à centros de pesquisa americanos.
São eles Sidarta Ribeiro e Cláudio Melo. O trio criou a Fundação Santos Dumont, para arrecadar apoio -e verbas- para a
criação do centro.
No lançamento da pedra fundamental do IINN, em fevereiro de 2004, Nicolelis trouxe
também vários cientistas estrangeiros, e inclusive alguns
ganhadores do Nobel para Natal. A idéia, na época, foi considerada meio utópica por alguns
pesquisadores do Brasil.
No encerramento da cerimônia de inauguração do IINN, todos deixaram a parte emocional de seus cérebros controlar
todo o corpo. Pesquisadores,
membros do governo e estudantes se divertiram ao som da
Orquestra Talento Petrobras,
que foi do forró ao Pink Floyd.
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