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BIODIVERSIDADE
Estudo foi mostrado em reunião da ONU
Para espécies de ilhas brasileiras, extinção chegou antes da ciência
REINALDO JOSÉ LOPES
ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA
A ciência chegou tarde demais
para uma espécie de planta da ilha
de Trindade: "Eu a descrevi depois de já estar extinta", conta
Ruy José Válka Alves, do Museu
Nacional da UFRJ (Universidade
Federal do Rio de Janeiro).
Alves e seus colegas dão hoje o
primeiro passo para pagar essa
dívida com a biodiversidade das
ilhas oceânicas brasileiras: lançam, durante a COP-8 (8ª Conferência das Partes) da Convenção
das Nações Unidas sobre Biodiversidade, um livro com a primeira síntese já feita a respeito das espécies que habitam Fernando de
Noronha, Trindade e Martim
Vaz, São Pedro e São Paulo, Abrolhos e o atol das Rocas.
"Abrolhos, na verdade, não se
encaixa na categoria oceânica [está ligada à plataforma continental
do Brasil, ao contrário das outras,
que surgiram a partir de atividade
vulcânica no mar], mas, por isolamento, as espécies ali são tipicamente oceânicas", afirma Alves.
No caso de Fernando de Noronha
e Trindade e Martim Vaz, a colonização antiga é a principal responsável por extinções. Ambientes como essas ilhas são vulneráveis à ação de espécies invasoras,
já que os seres vivos ali se desenvolveram em isolamento quase
total, com poucos competidores.
O resultado, segundo Alves, foram dezenas de plantas extintas,
de samambaias a angiospermas
(plantas com flores). O pesquisador conseguiu descrever a espécie
desaparecida de planta ao achá-la
em meio às coleções de museus.
Animais também sofreram. "Tenho relatos sobre um caranguejo
gigante em Trindade, que ainda
era visto nos anos 1950 e 1960. Ele
nem chegou a ser descrito", diz.
O levantamento não é mero relato de tragédias. Os dados compilados apontam 450 espécies de
plantas terrestres (fora musgos) e
cerca de 25 espécies endêmicas
(que só existem ali) de peixes de
recife, além de centenas de invertebrados. "Ainda não sabemos
quase nada sobre essas ilhas. Eu,
por exemplo, já tenho mais três
espécies novas de planta para descrever", diz Alves.
A ONG Conservação Internacional lançou ontem a segunda
edição de sua revista científica
"Megadiversidade", com o estudo
mais detalhado já feito sobre o
impacto da possível instalação da
indústria petrolífera em Abrolhos
(uma licitação para isso foi aberta
em 2002 e depois cancelada). Os
pesquisadores, liderados por Gabriel Marchioro, do Ibama, avaliaram os efeitos das várias fases
da extração petrolífera sobre os
diferentes ecossistemas da região,
de manguezais a recifes de coral.
Vulnerabilidade
Eles atribuíram um peso diferenciado a cada efeito conhecido
das atividades petrolíferas (como
a desorientação ou danos aos ouvidos de tartarugas marinhas causadas pelas sondagens em busca
das reservas) e atribuíram uma
escala de vulnerabilidade a faixas
do ambiente costeiro. O resultado
foi a proposta da exclusão de 243
blocos da zona de uma possível
área petrolífera.
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