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Metrópoles brasileiras emitem menos CO2
Comparação entre 12 grandes cidades de três continentes indica que emissão por pessoa é menor em São Paulo e no Rio
Estudo afirma que regiões
metropolitanas não são as
grandes vilãs do clima e que
sua emissão per capita é menor que a média nacional
AFRA BALAZINA
DA REPORTAGEM LOCAL
Paulistanos e cariocas estão
entre os moradores de grandes
cidades do mundo que menos
emitem gases-estufa, segundo
um estudo que comparou 12
metrópoles em três continentes. Considerando o total de
CO2 emitido por habitante, as
cidades brasileiras ficaram
atrás até mesmo de cidades europeias, consideradas "limpas",
e muito atrás de metrópoles
norte-americanas e asiáticas.
São Paulo e Rio têm maiores
emissões no setor de lixo, mas
no setor de transporte elas ficam abaixo das demais analisadas. Nova York, por exemplo,
captura o metano dos aterros
sanitários e possui emissão zero em resíduos sólidos. Em São
Paulo, que também capta metano nos aterros Bandeirantes
e São João, as emissões desse
setor representam 23,6% do
total municipal. No Rio, elas
representam 36,5%.
O dado não é motivo para comemorar, já que a avaliação
não diz respeito à poluição do
ar nas cidades -nesse quesito,
São Paulo continua entre as
piores do mundo, especialmente no setor de transporte.
E o estudo lembra que, no
Brasil, as maiores emissões são
provenientes de desmatamento e da criação de gado.
Se forem levadas em conta as
emissões totais (e não a per capita), as cidades brasileiras estão próximas de Washington e
Glasgow. Mas ainda emitem
bem menos do que Londres,
Nova York e Toronto.
Segundo a pesquisa, publicada no periódico "Environment
& Urbanization", as grandes cidades nem sempre são as maiores vilãs do clima. O levantamento mostra que em metrópoles como São Paulo, Londres
e Nova York as emissões per
capita são bem menores do que
a média nacional.
Os nova-iorquinos respondem por menos de um terço da
média de emissão dos EUA. Os
londrinos, por pouco mais da
metade das emissões da média
do Reino Unido. Em São Paulo
e no Rio, as emissões per capita
não chegam a um terço da média brasileira.
O autor do estudo, David
Dodman, pesquisador do Instituto Internacional para o Meio
Ambiente e Desenvolvimento,
afirma que não há nenhuma ligação fundamental entre a urbanização e altos níveis de
emissão de gases-estufa.
"Ao contrário, cidades bem
planejadas e bem geridas podem desempenhar um papel
central para ajudar a mitigar a
mudança climática", diz.
Na Ásia, por exemplo, ele
ressalta que a cidade mais rica,
Tóquio, tem menores emissões
por pessoa do que Pequim ou
Xangai. "Isso mostra que a
prosperidade não conduz, inevitavelmente, ao aumento das
emissões", diz Dodman.
De acordo com ele, em Londres as emissões de transporte
são menores do que na maioria
das grandes cidades "como resultado de alto uso de transporte coletivo, grande investimento em infraestrutura e políticas para promover alternativas ao uso de veículos".
Vazamento
Os inventários não levam em
conta onde os itens são consumidos. Isso pode beneficiar algumas cidades avaliadas, já que
muitos processos poluentes de
fabricação e com alta emissão
de carbono já não estão mais localizados nessas metrópoles,
mas em outras partes do mundo em que os salários são mais
baixos e há menor rigor ambiental. Esse tipo de "vazamento" é o que torna as emissões
chinesas tão altas.
Segundo o consultor Fabio
Feldmann, secretário-executivo do Fórum Paulista de Mudanças Climáticas, essa é uma
questão relevante. "Uma usina
termelétrica pode estar localizada em outra cidade e sua
energia ser usada em São Paulo,
por exemplo. A qual delas você
atribui a emissão?", questiona.
Ele lembra que, se a região
amazônica fosse avaliada, as
emissões per capita seriam altíssimas -pois a população é
pequena e há muito desmatamento e gado.
O declínio das indústrias nas
grandes cidades também explica em parte a situação. No Rio,
a proporção das emissões do
setor industrial passou de 12%
em 1990 para 6,2% em 1998.
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