|
Próximo Texto | Índice
BIOLOGIA
Traços de carbono de 3,8 bilhões de anos em rocha da Groenlândia não seriam fruto do metabolismo de micróbios
Estudo refuta registro mais antigo da vida
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
A evidência de que a vida poderia ter se desenvolvido enquanto a
superfície da Terra ainda estava
sendo constantemente derretida
por impactos violentos de uma
chuva de asteróides era mesmo
boa demais para ser verdade.
Um estudo publicado hoje na
revista americana "Science"
(www.sciencemag.org) sugere
que a presença de certas distribuições de carbono de 3,85 bilhões de
anos em uma pedra da Groenlândia não são resultado do metabolismo de formas de vida antiquíssimas, mas apenas fruto do processo de formação da rocha.
A sugestão de que os traços de
grafite (um tipo específico de carbono) fossem biogênicos, ou seja,
produzidos por seres vivos, surgiu em 1996, publicada na revista
"Nature" por Stephen Mojzsis, da
Universidade do Colorado.
Agora, Mojzsis está trabalhando
na análise do famoso meteorito
marciano ALH84001, no qual a
Nasa teria supostamente encontrado sinais de vida. Enquanto isso, Christopher Fedo, um geólogo
da Universidade George Washington (EUA), diz que já em 1996
seu colega do Colorado estava
querendo tirar leite de pedra -na
ocasião, com vida terrestre.
Há 3,8 bilhões de anos, a Terra
estava saindo do período mais
turbulento de sua história. Meteoros se chocavam contra o planeta
constantemente, derretendo o solo e vaporizando qualquer micróbio que por ventura tenha se
aventurado a existir. Esse período, que começou há 4,2 bilhões de
anos, 350 milhões após a formação do planeta, ficou conhecido
como cataclismo lunar (o nome
veio do fato de que só o descobriram graças à Lua, que preservou
melhor os traços daquela época).
Os cientistas imaginam que só
depois do cataclismo a vida pôde
se consolidar. Nesse contexto, seria até concebível a idéia de que os
traços na rocha da Groenlândia
fossem resultado dos primeiros
micróbios que evoluíram após os
impactos. Mas não é bem assim.
"Os supostos registros fósseis
presentes na rocha implicam um
metabolismo sofisticado, que teria de ter emergido de formas de
vida ainda mais antigas", diz Fedo. Se o caso fosse esse, os ancestrais desses organismos obrigatoriamente teriam de ter vivido durante o cataclismo lunar, uma hipótese bastante improvável.
Embora os pesquisadores continuem acreditando que a vida deva ter se formado por volta de 3,8 bilhões de anos atrás, parece não ter restado pedra sobre pedra. Na
lista das descobertas, depois da rocha da Groenlândia, vêm umas
pedras da Austrália, que conteriam o mais antigo fóssil morfológico (com a forma do organismo) já encontrado, com 3,4 bilhões de anos. Mas mesmo sobre esses pedregulhos há controvérsia.
Próximo Texto: Panorâmica - Política científica: Fapesp completa 40 anos Índice
|