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Como simular um planeta
Físico suíço pede 1 bilhão de euros para construir
supercomputador capaz de prever funcionamento
de sociedade e ambiente num mundo globalizado
LUCIANA COELHO
DE GENEBRA
Era outubro de 2008 e se
prenunciava o cataclismo
econômico global. Sentado
em um fórum de ciência e política pública, o físico suíço
Dirk Helbing teve uma epifania: por que não criar um supercomputador que, unindo
áreas distintas do conhecimento, pudesse prever hecatombes desse tipo?
O marco zero da crise, a
quebra do banco de investimento americano Lehman
Brothers, acontecera um mês
antes. "E era visível então
que os economistas não sabiam o bastante a respeito e
que sua abordagem não servia para detectar as interconexões no sistema", diz.
Para ele, um sujeito que foi
da física à sociologia e usou
ambos para desenhar sistemas de tráfego e detectar
comportamentos de grupo,
era óbvio que o que faltou em
2008 e outras tantas crises
em outras áreas foi uma
abordagem holística.
Helbing, do Instituto Federal de Tecnologia de Zurique,
visualizou então um sistema
que usasse regras da física
para lidar com interações entre pessoas, variáveis ambientais e aquilo que as "colisões" entre elas gerarem.
Para tirar a ideia do papel,
quer 1 bilhão em financiamento da União Europeia (o
LHC, o superacelerador de
partículas, consumiu já 9,4
bilhões, lembra ele).
O dinheiro servirá para
construir um supercomputador com capacidade de buscar dados em redes sociais,
publicações, na academia e,
assimilando bilhões de variáveis, produzir modelos em
que interajam agentes distintos (economia, política, clima, transportes e outros).
Mas também bancará a
formação de uma megaequipe que una de engenheiros a
especialistas em psicologia
para trabalhar na "compreensão, integração e administração de sistemas complexos", no dizer de seu recém-publicado artigo.
ACELERAÇÃO
Ou: Helbing acha que a
complexidade do sistema
econômico e social hoje é tamanha que não pode ser tratada isoladamente por cada
área de especialidade. "Unir
comunidades diferentes vai
acelerar a produção de conhecimento", diz. "E os valores são baixos se comparados com o que é gasto em física elementar. Isso deveria ser
gasto no mundo dos vivos."
Só a união em grande escala de físicos e engenheiros
com economistas, diz, poderá criar instrumentos úteis à
tomada de decisões por políticos, industriais, acadêmicos e pessoas do mercado. Isso fortaleceria o sistema social e tornaria possível antever crises como a de 2008.
A ideia é colocar o "superacelerador de conhecimento" em ação em 2013 -se o financiamento vier (o megainvestidor George Soros já
chancelou o projeto).
Indagado sobre se o projeto não vai gerar um número
sem-fim de modelos (e impedir os tomadores de decisão
de discernir qual se aplica à
situação corrente), Helbing
cita a divisão entre economistas e físicos.
DUAS CULTURAS
Os primeiros preferem
usar o maior número de variáveis possível. Os segundos
preferem menos variáveis.
Prevaleceriam os físicos,
cujos modelos não lineares
são melhores para detectar
fenômenos como a crise.
O que não foi decidido ainda é onde basear os cientistas. Mas isso terá de esperar:
Helbing está gastando seu
poder de análise para decifrar o "complexo e em múltiplas etapas" sistema de financiamento da UE.
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