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QUÍMICA
Composto feito com argônio é estável apenas em baixas temperaturas
Grupo cria molécula com gás nobre
SALVADOR NOGUEIRA
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Já não se fazem mais nobres como antigamente -pelo menos
na química. Uma equipe da Universidade de Helsinque, Finlândia, criou um composto usando o
gás nobre argônio, contrariando a
crença comum de que esse tipo de
elemento não se mistura para formar moléculas. O estudo foi publicado na "Nature" de hoje.
Os gases nobres são conhecidos
pela estabilidade. Todos possuem
oito elétrons na camada mais exterior (exceto o hélio, que tem
apenas dois), o que faz deles os
mais esnobes elementos químicos
-não gostam de se misturar.
Ser um gás nobre é o sonho de
todo elemento. É por essa razão
que eles se unem em compostos.
Os átomos comuns costumam
doar ou receber elétrons de outros átomos -formando moléculas- a fim de completar seu
octeto, ou seja, ficar com oito elétrons na última camada -exatamente como seus primos ricos.
Como não é possível convencer
um gás nobre a doar elétrons, aos
outros elementos só resta uma alternativa: furtar. Para fazer isso, é
preciso conseguir algum composto que tenha mais "vontade" de
pegar e ceder elétrons - ou seja,
mais energia- do que o gás nobre tenha de guardá-los para si.
Quanto menor o átomo do gás
nobre, mais próximos do núcleo
estão os elétrons da última camada, o que faz com que mais energia seja necessária para furtá-los.
A hipótese de que alguns gases
nobres pudessem formar moléculas surgiu com Linus Pauling,
em 1933. A idéia foi confirmada
em 1962, quando os químicos
conseguiram criar um composto
com xenônio, o hexafluoroplatinato de xenônio (XePtF6).
O composto obtido agora pelos
químicos finlandeses é o HArF
(fluorohidreto de argônio). A molécula criada é estável, mas somente em temperaturas muito
baixas -no máximo -246 C.
Ela foi obtida com a quebra de
moléculas de HF (fluoreto de hidrogênio, um composto altamente reativo) e sua posterior recombinação com átomos de argônio.
O experimento revela que forçar um gás nobre a formar uma
molécula é apenas questão de
energia. "O próximo passo seria
tentar criar um composto com
neônio", disse Paulo Roberto Olivato, professor titular do Instituto
de Química da USP. Segundo ele,
uma molécula com hélio -o menor dos gases nobres- ainda está
distante. Hélio e neônio permanecem sendo os únicos gases nobres
que não formaram compostos.
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