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SAÚDE
Estudo mostra que o tabaco produz mais material particulado que a queima do combustível por carros novos a diesel
Cigarro polui mais do que alguns motores
Fabrizio Bentsch - 19.set.2003/Reuters
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Fotografia mostra mulher fumando cigarro em ambiente fechado em Berlim, Alemanha, em 2003 |
LAURA NELSON
CRISTINA AMORIM
FREE-LANCE PARA A FOLHA
A fumaça de cigarros produz
dez vezes mais partículas de poluição do que o escapamento dos
modelos novos -e ambientalmente mais corretos- de motor
a diesel, afirmam cientistas da Itália e da França.
"As pessoas não têm uma idéia
do nível de poluição produzido
pelo fumo dentro de casa", disse à
Folha o italiano Giovanni Invernizzi, da Unidade de Controle do
Tabaco do Instituto Nacional do
Câncer em Milão. Partículas microscópicas resultantes de combustão são recobertas por moléculas que podem causar câncer.
Outros produtos químicos presentes nessas partículas podem levar ao desenvolvimento de bronquite e doenças cardíacas.
Essas partículas são de tamanhos variados (de 0,1 a 10 milésimos de milímetro), mas todas elas
vão parar nos pulmões depois de
inaladas. As menores podem entrar na corrente sangüínea.
"Partículas menores que 0,1 micrômetro (milésimo de milímetro) podem chegar ao cérebro e a
outros órgãos, causando infarto e
derrames", diz Invernizzi.
Fumaça nas montanhas
Os pesquisadores mediram a
quantidade de partículas emitidas
durante uma hora por três cigarros dentro de um quarto, e a compararam com o número de partículas emitidas no mesmo intervalo e no mesmo ambiente por um
veículo equipado com um motor
a diesel moderno.
O estudo foi feito nas montanhas da Itália, na cidade de Chiavenna, onde há pouca contaminação por poluentes.
Os cigarros emitiram partículas
em concentrações até dez vezes
maiores que o motor. O nível total
de particulados foi de 88 microgramas por metro cúbico para o
carro e 830 microgramas por metro cúbico para os cigarros.
Os pesquisadores também
compararam o tamanho das partículas. Descobriram que os cigarros produziram 15 vezes mais
partículas grandes que o carro.
Os autores do estudo, publicado
no periódico médico "Tobacco
Control", se disseram surpresos
com o resultado. Invernizzi avisa
que quartos com janelas fechadas
são um problema. "A gente deve
ser cuidadoso com o fumo passivo, porque as partículas podem ficar [suspensas] no quarto por
muito tempo" diz o italiano.
Motores velhos
Não há ainda estudos com motores a diesel mais antigos -como os que movimentam vários
caminhões e ônibus no Brasil-
dizem os autores. Mas eles dizem
que esses motores geralmente
produzem cem vezes mais partículas que os modelos novos, ganhando, portanto, dos cigarros.
No entanto, os novos motores
estão cada vez mais em uso, devido ao endurecimento de normas
ambientais, especialmente na Europa. De acordo com os pesquisadores, isso fará com que os cigarros se tornem uma fonte mais significativa de poluição.
Segundo a Cetesb (Companhia
de Tecnologia de Saneamento
Ambiental), que mede a poluição
na região metropolitana de São
Paulo, a média diária de material
particulado jogado no ar por veículos é de 150 microgramas por
metro cúbico -menos da metade do índice obtido na experiência realizada em Chiavenna.
O pneumologista Chin An Lin,
pesquisador do Laboratório de
Poluição Atmosférica Experimental da Escola de Medicina da
USP (Universidade de São Paulo),
lembra que, na cidade, costuma-se observar uma equivalência de
70% no índice de poluição atmosférica em ambientes externos e internos. Dentro de uma típica casa
paulistana, há cerca de 105 microgramas por metro cúbico -para
a Cetesb, valor inserido na faixa
"regular" de qualidade do ar.
Segundo Lin, estudos anteriores
mostram que os poluentes inspirados ao ar livre nas metrópoles
correspondem a fumar dois ou
três cigarros por dia. "Ao colocar
um fumante passivo dentro de
uma sala, ele vai respirar ainda
mais material particulado", diz.
"É risco em cima de risco."
Mesmo que o estudo provoque
uma reação crítica de grupos antitabagistas, dificilmente os fabricantes conseguiriam reduzir a geração de material particulado,
produzido pela queima do papel e
dos compostos. "Não é como o filtro, colocado para "segurar" as outras substâncias como a nicotina",
afirma o pesquisador. "Todo o
material conhecido pela indústria
que pudesse substituir o usado
hoje vai ser queimado e, por conseqüência, vai produzir material
particulado."
Basta saber se a Anvisa (Agência
Nacional de Vigilância Sanitária),
que examina a composição do cigarro no Brasil, exigirá padrões
máximos de material particulado
como já pede de nicotina, alcatrão
e monóxido de carbono.
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