São Paulo, segunda-feira, 24 de setembro de 2007

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ONU tenta hoje quebrar gelo do pós-Kyoto

Secretário-geral Ban Ki-moon reúne 70 chefes de Estado para buscar um acordo sobre o substituto do tratado do clima

Reunião acontece à véspera de Assembléia-Geral e é a maior cúpula já feita sobre o tema; EUA ganham elogio de chefe do Pnuma

DENYSE GODOY
DE NOVA YORK

A maior reunião de chefes de Estado já realizada para discutir o aquecimento global acontece hoje em Nova York, no âmbito da 62ª Assembléia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas), sob bons auspícios: na última sexta-feira, 191 nações, ricas e pobres, concordaram em acelerar o processo de eliminação dos HCFCs (hidroclorofluorcarbonos), gases que contribuem tanto para o efeito estufa quanto para a destruição da camada de ozônio.
"É um avanço histórico", afirmou à Folha Achim Steiner, diretor-executivo do Pnuma (Programa das Nações Unidas para Meio Ambiente). Para ele, isso é um sinal de que pode haver acordo entre todos os países também para atacar as emissões de gás carbônico -muito mais volumosas que as de HCFCs, muito mais danosas ao clima e muito mais atreladas à economia, já que são produzidas pela queima de petróleo e outros combustíveis fósseis.
"Nesta segunda-feira, o secretário-geral Ban Ki-moon, que decidiu realizar o primeiro grande encontro entre chefes de Estado para discutir o aquecimento global, dirá a eles: nós podemos fazer, mas precisamos do apoio de todos", disse.
Steiner faz elogios cautelosos à participação americana no processo. Antes, o presidente George W. Bush colocava em dúvida os alertas de pesquisadores de que o mundo está ficando mais quente. Neste ano, ele finalmente endossou a ciência e convocou um encontro entre os 15 maiores poluidores (inclusive o Brasil) para esta semana, para discutir o combate aos gases-estufa.
"Os EUA se encontram mais perto de serem um parceiro pró-ativo nos esforços multilaterais. Isso sem dúvida é um movimento muito importante tendo em vista as negociações em Bali, no final do ano, sobre o que vem após o Protocolo de Kyoto. Não estava claro que teríamos condições de realmente dar início aos entendimentos ainda em 2007."
O objetivo da reunião de hoje, da qual participam representantes de 150 países, é dar um "sinal político" para que as negociações formais do acordo substituto de Kyoto comecem em dezembro, durante um encontro da Convenção do Clima da ONU em Bali, Indonésia.
Kyoto, que determina que os países industrializados cortem suas emissões de gases-estufa em 5,2% em relação a 1990, expira em 2012. Sua extensão precisa ser negociada neste ano, se o mundo quiser evitar os piores efeitos da mudança climática, mas nações como China, Rússia e os próprios EUA ainda têm resistências a um novo tratado -que, dizem, pode prejudicar suas economias. É essa resistência que Ban planeja dirimir hoje.
A reivindicação feita pelos países pobres de que as nações ricas, que são as maiores poluidoras, abracem maiores responsabilidades, é um dos principais assuntos na pauta.

Oportunidade
"Os países industrializados já aceitaram o seu papel de líderes no combate ao aquecimento global. A questão que se impõe neste momento é como todos juntos podem se ajudar para resolver um problema que não é mais apenas do hemisfério Norte. Não há solução a não ser que encontremos um enfoque coletivo", ponderou Steiner. "A parte difícil será justamente estruturar um sistema que seja aceitável para todos, sem uma nação ficar achando que outra está tirando vantagem dela."
Para convencer as partes envolvidas de que é preciso tomar uma atitude imediatamente, Ban colocará três argumentos sobre a mesa. Primeiro, ninguém quer viver em um mundo no qual o aquecimento global continua crescendo e afetando a todas as pessoas.
Segundo, a mudança climática não precisa ser vista apenas como um ônus. "Ela também cria oportunidades econômicas e tecnológicas", frisou o diretor do Pnuma, citando como exemplo o álcool brasileiro, que, na sua opinião, depende da criação de um mercado internacional com padrões bem definidos para se firmar como alternativa viável aos combustíveis fósseis.
Terceiro, o custo de não agir será sentido desproporcionalmente. "A África, que é a que menos emite gases-estufa, também é a menos preparada para enfrentar as conseqüências do aquecimento", frisou.
Os presidentes Lula e George W. Bush não comparecerão à discussão na ONU hoje (o Brasil será representado pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva). À noite, os líderes vão a um jantar para 20 chefes de Estado.

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