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ONU tenta hoje quebrar gelo do pós-Kyoto
Secretário-geral Ban Ki-moon reúne 70 chefes de Estado para buscar um acordo sobre o substituto do tratado do clima
Reunião acontece à véspera de Assembléia-Geral e é
a maior cúpula já feita sobre o tema; EUA ganham elogio de chefe do Pnuma
DENYSE GODOY
DE NOVA YORK
A maior reunião de chefes de
Estado já realizada para discutir o aquecimento global acontece hoje em Nova York, no âmbito da 62ª Assembléia Geral da
ONU (Organização das Nações
Unidas), sob bons auspícios: na
última sexta-feira, 191 nações,
ricas e pobres, concordaram
em acelerar o processo de eliminação dos HCFCs (hidroclorofluorcarbonos), gases que
contribuem tanto para o efeito
estufa quanto para a destruição
da camada de ozônio.
"É um avanço histórico",
afirmou à Folha Achim Steiner, diretor-executivo do Pnuma (Programa das Nações Unidas para Meio Ambiente). Para
ele, isso é um sinal de que pode
haver acordo entre todos os
países também para atacar as
emissões de gás carbônico
-muito mais volumosas que as
de HCFCs, muito mais danosas
ao clima e muito mais atreladas
à economia, já que são produzidas pela queima de petróleo e
outros combustíveis fósseis.
"Nesta segunda-feira, o secretário-geral Ban Ki-moon,
que decidiu realizar o primeiro
grande encontro entre chefes
de Estado para discutir o aquecimento global, dirá a eles: nós
podemos fazer, mas precisamos do apoio de todos", disse.
Steiner faz elogios cautelosos à participação americana
no processo. Antes, o presidente George W. Bush colocava em
dúvida os alertas de pesquisadores de que o mundo está ficando mais quente. Neste ano,
ele finalmente endossou a
ciência e convocou um encontro entre os 15 maiores poluidores (inclusive o Brasil) para
esta semana, para discutir o
combate aos gases-estufa.
"Os EUA se encontram mais
perto de serem um parceiro
pró-ativo nos esforços multilaterais. Isso sem dúvida é um
movimento muito importante
tendo em vista as negociações
em Bali, no final do ano, sobre o
que vem após o Protocolo de
Kyoto. Não estava claro que teríamos condições de realmente
dar início aos entendimentos
ainda em 2007."
O objetivo da reunião de hoje, da qual participam representantes de 150 países, é dar
um "sinal político" para que as
negociações formais do acordo
substituto de Kyoto comecem
em dezembro, durante um encontro da Convenção do Clima
da ONU em Bali, Indonésia.
Kyoto, que determina que os
países industrializados cortem
suas emissões de gases-estufa
em 5,2% em relação a 1990, expira em 2012. Sua extensão
precisa ser negociada neste
ano, se o mundo quiser evitar
os piores efeitos da mudança
climática, mas nações como
China, Rússia e os próprios
EUA ainda têm resistências a
um novo tratado -que, dizem,
pode prejudicar suas economias. É essa resistência que
Ban planeja dirimir hoje.
A reivindicação feita pelos
países pobres de que as nações
ricas, que são as maiores poluidoras, abracem maiores responsabilidades, é um dos principais assuntos na pauta.
Oportunidade
"Os países industrializados já
aceitaram o seu papel de líderes
no combate ao aquecimento
global. A questão que se impõe
neste momento é como todos
juntos podem se ajudar para resolver um problema que não é
mais apenas do hemisfério
Norte. Não há solução a não ser
que encontremos um enfoque
coletivo", ponderou Steiner. "A
parte difícil será justamente estruturar um sistema que seja
aceitável para todos, sem uma
nação ficar achando que outra
está tirando vantagem dela."
Para convencer as partes envolvidas de que é preciso tomar
uma atitude imediatamente,
Ban colocará três argumentos
sobre a mesa. Primeiro, ninguém quer viver em um mundo
no qual o aquecimento global
continua crescendo e afetando
a todas as pessoas.
Segundo, a mudança climática não precisa ser vista apenas
como um ônus. "Ela também
cria oportunidades econômicas
e tecnológicas", frisou o diretor
do Pnuma, citando como exemplo o álcool brasileiro, que, na
sua opinião, depende da criação de um mercado internacional com padrões bem definidos
para se firmar como alternativa
viável aos combustíveis fósseis.
Terceiro, o custo de não agir
será sentido desproporcionalmente. "A África, que é a que
menos emite gases-estufa,
também é a menos preparada
para enfrentar as conseqüências do aquecimento", frisou.
Os presidentes Lula e George
W. Bush não comparecerão à
discussão na ONU hoje (o Brasil será representado pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva). À noite, os líderes vão a um jantar para 20 chefes
de Estado.
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