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Plantio teria facilitado a expansão tupi
Área onde há indícios de agricultura também é considerada berço de povos que colonizariam litoral do país
Cultivo de mandioca
tem forte elo com as
tribos do grupo, mas
evidências mais claras
são difíceis de obter
DO ENVIADO A PORTO VELHO
"Tupi or not tupi" (tupi ou
não tupi), brincava o poeta
brasileiro Oswald de Andrade, parodiando o "to be or
not to be" de Shakespeare.
No caso das descobertas em
Rondônia, a piada do autor
modernista está estranhamente próxima da realidade.
Isso porque, ao que tudo
indica, o Estado amazônico é
considerado por muitos estudiosos como o provável berço da expansão tupi.
É ali que existe a maior diversidade de idiomas do
tronco linguístico tupi -e os
estudos mostram que essa diversidade só aparece com o
tempo. Portanto, é um sinal
claro de que os tupis estariam por lá há milênios.
Os povos que falavam idiomas tupis, porém, já tinham
se espalhado por uma enorme área, alcançando todo o
litoral do Brasil, na época do
primeiro contato com os europeus. Seria possível identificá-los como os primeiros
plantadores de mandioca do
Brasil? Será que isso teria
conferido a eles uma vantagem competitiva frente a
seus rivais sem lavoura?
Ideias desse tipo ganharam força entre arqueólogos
nas últimas décadas. Grosso
modo, ocorre que, comparados a caçadores-coletores,
povos de fazendeiros têm
mais muque demográfico.
Conseguem produzir mais
comida para alimentar mais
gente no mesmo espaço -algo entre dez e cem vezes mais
pessoas por hectare. Por isso,
ganhariam a briga por expansão territorial, desalojando ou derrotando em combate seus rivais não-agrícolas.
"Não há dúvida de que há
um elo muito forte entre os
tupis e o cultivo da mandioca, até do ponto de vista dos
mitos sobre a planta que são
importantes para eles", diz o
arqueólogo Eduardo Bespalez, que tenta relacionar o registro dos sítios com os povos
indígenas atuais.
"Encontramos por aqui a
cerâmica da chamada tradição policrômica da Amazônia. É comum ela ser associada aos grupos tupis, embora
povos sem relação com eles
também a tenham produzido", adverte o pesquisador.
Renato Kipnis vê com interesse um possível elo entre
avanço demográfico e agricultura, mas diz que os modelos a esse respeito podem
acabar sendo simplistas.
"Uma coisa que notamos,
com base no próprio sítio
Garbin e em outros locais, foram datações em torno de
5.000 anos, as mais antigas
depois da de 7.700 anos",
conta ele. "O curioso é que
essa idade é uma das estimadas para a divergência inicial
das línguas do tronco tupi. É
uma possibilidade a explorar", afirma o arqueólogo.
PRESERVAÇÃO
Segundo a Santo Antônio
Energia, a Universidade Federal de Rondônia terá apoio
para montar um acervo preservando os achados dos sítios arqueológicos que foram
-ou serão- destruídos pela
usina. Outras áreas de escavação, que não serão diretamente afetadas, podem virar
áreas de estudo permanente.
(REINALDO JOSÉ LOPES)
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