São Paulo, domingo, 25 de janeiro de 2004

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Ciência em Dia

Pomos da discórdia, transgênica e espacial

Marcelo Leite
editor de Ciência

Não foi o fim do mundo nem trouxe ameaça concreta para a saúde de ninguém, mas organismos transgênicos protagonizaram um novo deslize de segurança. Foi em plena Califórnia, terra de altos vinhos e alta tecnologia: tomates geneticamente modificados inutilizaram cinco anos de experimentos no laboratório de Nicholas Ewing, da Universidade da Califórnia em Sacramento. Ewing não é um xiita antitransgênicos, mas um cientista que decidiu patrocinar o trabalho de um estudante entusiasmado com a idéia de produzir anticorpos em pés de tomate, conforme relatou Edie Lau no jornal "Sacramento Bee". O laboratório de Ewing trabalhou com linhagens obtidas do Rick Tomato Genetics Resource Center, também da Universidade da Califórnia, mas em Davis. O que nem eles nem quem enviou as sementes sabiam é que elas já continham um transgene, introduzido anos atrás em variedades comerciais da fruta para retardar seu amadurecimento. Junto com essa seqüência de DNA enxertada, sementes do Rick Center haviam recebido outra, que dava à planta resistência contra certo antibiótico. É uma forma de testar a eficiência da transformação genética: se as células tratadas com a droga sobrevivem, é porque incorporaram também o gene de interesse. Ocorre que, como o grupo de Ewing empregaria o mesmo tipo de seleção, o experimento estava fadado a dar errado. Muitas de suas amostras sobreviveriam ao teste, mesmo as que não incorporassem o gene correspondente ao anticorpo. Quando começou a desconfiar que havia algo de muito estranho com as plantas, Ewing recebeu carta do Rick Center dando conta de que as sementes já eram na realidade transgênicas. O resultado é que Ewing resolveu suspender o projeto por tempo indeterminado. O ocorrido, para ele, "ilustra que esses genes podem ser difíceis de conter, a não ser que tenhamos em uso práticas melhores para detectá-los", afirmou ao "Sacramento Bee". Deve ser por essa e outras razões que o Conselho Nacional de Pesquisa dos EUA lançou na terça-feira um relatório (www.nap.edu/books/0309090857/html) recomendando o emprego de métodos redundantes na contenção de organismos geneticamente modificados.

O caso VLS
A coluna da semana passada motivou o envio de correspondência por Paulo Murilo Castro de Oliveira, membro da comissão que investiga o acidente com o foguete VLS, em agosto de 2003, e do Instituto de Física da Universidade Federal Fluminense (e não da UFRJ, como saiu aqui). Oliveira se queixa de que o texto publicado teria insinuado que ele é conivente com a sonegação de informações ao público.
"Discordo de sua avaliação quanto à minha prestação de contas à sociedade civil. Esta será feita pela comissão de investigação, como um todo, através de seu relatório final, que será entregue ao Ministro da Defesa, que nos nomeou. Este, então, deverá tornar público esse relatório", diz num de seus e-mails. "Meu empenho na comissão tem sido justamente zelar pela transparência absoluta no relatório final, para que ele contenha todas as informações que puderem ser obtidas a respeito do acidente."
O texto não tinha por objetivo atacar a reputação de ninguém, em particular, mas sim apontar que o andamento da investigação sobre o acidente, como um todo, vinha se pautando pela carência de informações à sociedade.

E-mail: cienciaemdia@uol.com.br


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