São Paulo, segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Próximo Texto | Índice

Emergentes prometem ajuda climática

Brasil, África do Sul, Índia e China acenam com auxílio financeiro para reconquistar confiança de países pobres menores

Ministros de meio ambiente do bloco cobram "dinheiro rápido" prometido por nações ricas para adaptação ao aquecimento global

Mustafa Quraishi/Associated Press
Jairam Ramesh, Xie Zhenhua, Buyelwa Sonjica e Carlos Minc (esq. para dir.) ontem em Nova Déli

RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os países gigantes emergentes querem recuperar a confiança das nações pobres pequenas na tentativa de retomar o bom andamento das negociações para o novo acordo do clima. Em reunião ontem em Nova Déli, ministros de ambiente do grupo Basic (Brasil, África do Sul, Índia e China), decidiram que o bloco vai dar contribuição financeira para países mais pobres lidarem com o aquecimento global e criar um comitê de auxílio científico.
O valor da contribuição conjunta ainda não foi anunciado, mas, segundo Carlos Minc, ministro do Meio Ambiente do Brasil, deve ocorrer em breve. "Ontem, o que ocorreu foi uma reunião de ministros, e, naturalmente, o montante vai ser definido em conjunto com os presidentes", disse Minc à Folha, por telefone. "A ideia é que seja um contribuição idêntica para todos os países do Basic."
De acordo com o brasileiro, o gesto deve auxiliar os quatro gigantes emergentes a atraírem o G-77 (bloco diplomático com mais de 120 países em desenvolvimento) de volta à negociação do acordo do clima. Muitos dos países desse grupo se sentiram mal representados na conferência de Copenhague, em dezembro, e se recusaram a assinar o documento final da cúpula, que havia sido articulado pelo Basic e pelos EUA.
"Evidentemente, foi do G-77 que partiu a maior resistência, porque o processo foi pouco inclusivo e pouco transparente", diz Minc, que culpa a anfitriã Dinamarca por ter conduzido mal o debate. "Agora, o Basic quer avançar mais e quer voltar a se articular melhor com o G-77, que é de onde vem, também, a sua força política."
Segundo o ministro brasileiro, os quatro países criarão um comitê conjunto para ampliar a cooperação científica. O Brasil, que já fornece à África imagens de satélite para monitorar florestas, deve estender o serviço a outros países. A oferta, diz Minc, é necessária para que outras nações possam aderir aos programas de Redd (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação florestal), que oferecem compensação financeira a países que preservam suas matas como forma de evitar a emissão de gases-estufa.
As declarações de Minc ganharam reforço de seus colegas ministros após a reunião de ontem. Jairam Ramesh, da Índia, disse que quer buscar um "consenso com os países desenvolvidos", também. Xie Zhenhua, da China, concentrou seu discurso em cobrar dos países ricos o "dinheiro rápido" que haviam prometido para ajudar nações pobres a lidarem com o aquecimento global.
O valor acertado em Copenhague era de US$ 30 bilhões, em três parcelas anuais até 2012. Segundo Zhenhua, a primeira deve seguir para os países mais pobres, sobretudo os africanos e as nações-ilhas.
Os quatro ministros também anunciaram que vão cumprir o prazo estabelecido em Copenhague para que países em desenvolvimento definam suas propostas voluntárias de corte de emissões. "Nós [o Basic] temos a obrigação de sermos os primeiros a submeter os planos de ação", disse Buyelwa Sonjica, da África do Sul.
Outro bom sinal que o Basic deu aos países pobre pequenos foi sua posição com relação à proposta de reduzir o debate do novo acordo do clima a um grupo restrito de 28 países. Sugerida pelo chefe da Convenção do Clima da ONU, Yvo de Boer, para evitar tumulto diplomático, e apoiada pelo presidente da França, Nicolas Sarkozy, a proposta foi criticada ontem.
"O Basic discutiu isso e rejeita a ideia", disse Minc. "Mas, isso não significa que não haverá articulações prévias entre grupos menores. Isso é que faltou em Copenhague." Várias reuniões devem acontecer até a próxima conferência do clima, no fim do ano, no México, diz.


Com Associated Press e France Presse

Próximo Texto: Humanos aniquilaram animais gigantes da Oceania, diz estudo
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.