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Gordura mata por inflamação, diz grupo
Estudo identifica molécula que medeia processo inflamatório em obesos e desencadeia diabetes e dano a vasos sanguíneos
Pesquisa diz que molécula
produzida por células de
defesa impede atividade de
insulina e faz veia entupir;
dado pode inspirar terapia
REINALDO JOSÉ LOPES
DA REPORTAGEM LOCAL
Pessoas obesas têm problemas de saúde que vão muito
além do excesso de peso, sofrendo com diabetes e sintomas cardiovasculares. Um novo estudo ajuda a explicar como
essa cadeia de riscos começa: é
como se o organismo fosse tomado por um grande processo
inflamatório oriundo do acúmulo de gordura dos obesos.
Para ser mais preciso, o tecido gorduroso de quem sofre de
obesidade fica povoado de células ligadas aos episódios de inflamação. Tais células produzem em abundância uma molécula, a chamada PAI-1, que
atrapalha a regulação da quantidade de açúcar no sangue e facilita o entupimento de vasos
sanguíneos, levando aos sintomas perigosos normalmente
associados à obesidade.
A pesquisa que aponta o papel-chave do PAI-1 nas mazelas
que surgem do excesso de gordura está na revista especializada "Science Translational
Medicine". A equipe coordenada por Preeti Kishore, da Faculdade de Medicina Albert
Einstein, em Nova York, seguiu
pistas que já associavam havia
tempos obesidade e inflamação. "A ideia de uma comunicação entre as células do sistema
imunológico e inflamatório e o
tecido adiposo [de gordura] já é
conhecida", explica o endocrinologista Bruno Geloneze,
coordenador do Laboratório de
Investigação em Metabolismo
e Diabetes da Unicamp.
Lado a lado
Sabia-se, por exemplo, que as
células de gordura dos obesos
vivem em contato estreito com
grandes populações de macrófagos, as tais células ligadas aos
processos de inflamação (veja
infográfico acima). Por outro
lado, outros estudos haviam
demonstrado que a PAI-1 impede que os coágulos dos vasos
sanguíneos se desmanchem, e
que camundongos modificados
geneticamente para não produzir a molécula não se tornam
obesos ou diabéticos mesmo
com uma dieta rica em gordura.
Restava, no entanto, entender o elo entre uma coisa e outra em pessoas. "O grande valor
do estudo reside na demonstração de um efeito agudo [de curto prazo], em condições extremamente controladas, em humanos. A imensa maioria dos
testes sempre foi conduzida em
modelos animais, como camundongos e ratos", diz o pesquisador da Unicamp.
Para conseguir esse resultado, Kishore e seus colegas injetaram gorduras no organismo
de 30 voluntários de ambos os
sexos, pessoas saudáveis que
não eram obesas. A injeção ajudou a simular os níveis naturalmente altos de gordura que circulam no organismo de obesos.
Depois, os pesquisadores obtiveram amostras do tecido adiposo dessas pessoas, constatando que, nas condições de
"obesidade simulada", os macrófagos dos voluntários se punham a produzir PAI-1, em
quantidade quatro vezes maior
do que se verificou em pessoas
que receberam apenas uma infusão salina (inócua).
Geloneze diz que o resultado
"não revoluciona o conhecimento vigente". "Tenho dúvidas quanto à real importância
do PAI-1 nessa história toda. É
possível que ele seja testado como um alvo terapêutico, mas
outras vias podem ser mais importantes", afirma ele.
De qualquer maneira, diz o
endocrinologista, os achados
da equipe americana reforçam
a ideia de que é preciso reduzir
o consumo de gordura, em especial quando grandes quantidades desse tipo de nutriente
são ingeridas de uma só vez.
No futuro, "as medicações
deixariam de focar a redução
do peso e passariam a limitar o
efeito negativo de um tecido
adiposo inflamado", avalia.
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